São quase sempre saudadas, de forma efusiva pelo público leitor, as obras póstumas dos grandes escritores. Em Portugal, mas também lá fora, nem sempre esses livros acrescentam mais valia ao que já fora publicado. Antes pelo contrário, muitas vezes. Isso deve-se, com frequência, a interesses comerciais das editoras e pecuniários, da parte dos descendentes e/ou respectivas famílias desses artistas. O sentido crítico ou o respeito pelo escritor raras vezes é tido em conta.
Em 1938, T. S. Eliot (1888-1965) prevenindo o futuro literário da sua obra e memória, escreveu ao seu amigo John Hayward (1905-1965), que escolhera para executor testamentário, uma carta sobre as suas vontades, e de que, em tradução livre, vamos dar um pequeno, mas significativo excerto. Que segue:
"Os trabalhos da profissão podem ser, por vezes, demasiado comuns e negativos.
Eu tive que escrever, uma vez por outra, textos banais em jornais, que, em grande parte e por aquela razão, nunca mais foram reeditados. O meu amigo deve tomar em consideração que, se esses artigos não foram publicados em livros meus posteriores, é porque não merecem voltar à luz do dia, depois da minha morte. A Faber & Faber pode ser tentada a reeditá-los, ora a sua obrigação deverá ser evitá-lo. E eu não desejo qualquer biografia escrita sobre mim, nem correspondência minha em livros póstumos, sobretudo a anterior a 1933, ou quaisquer cartas íntimas que eu tenha dirigido a alguém.
De facto, eu tenho uma grande preocupação com a privacidade póstuma. Portanto, e mais uma vez, o seu trabalho será desencorajar qualquer tentativa para publicarem livros sobre mim e suprimir tudo aquilo que seja de suprimir.
E deixarei, por isso, instruções nesse sentido, no meu testamento."
Nota pessoal : vale a pena acrescentar que as vontades pessoais de T. S. Eliot não foram acatadas. Para isso também ajudou o facto do seu amigo, John Hayward, ter falecido no mesmo ano do escritor, embora alguns meses depois. Mas a própria viúva, Valerie, segunda mulher de Eliot, pouco depois da sua morte, começou logo a organizar a correspondência existente, com vista à publicação...
Em 1938, T. S. Eliot (1888-1965) prevenindo o futuro literário da sua obra e memória, escreveu ao seu amigo John Hayward (1905-1965), que escolhera para executor testamentário, uma carta sobre as suas vontades, e de que, em tradução livre, vamos dar um pequeno, mas significativo excerto. Que segue:
"Os trabalhos da profissão podem ser, por vezes, demasiado comuns e negativos.
Eu tive que escrever, uma vez por outra, textos banais em jornais, que, em grande parte e por aquela razão, nunca mais foram reeditados. O meu amigo deve tomar em consideração que, se esses artigos não foram publicados em livros meus posteriores, é porque não merecem voltar à luz do dia, depois da minha morte. A Faber & Faber pode ser tentada a reeditá-los, ora a sua obrigação deverá ser evitá-lo. E eu não desejo qualquer biografia escrita sobre mim, nem correspondência minha em livros póstumos, sobretudo a anterior a 1933, ou quaisquer cartas íntimas que eu tenha dirigido a alguém.
De facto, eu tenho uma grande preocupação com a privacidade póstuma. Portanto, e mais uma vez, o seu trabalho será desencorajar qualquer tentativa para publicarem livros sobre mim e suprimir tudo aquilo que seja de suprimir.
E deixarei, por isso, instruções nesse sentido, no meu testamento."
Nota pessoal : vale a pena acrescentar que as vontades pessoais de T. S. Eliot não foram acatadas. Para isso também ajudou o facto do seu amigo, John Hayward, ter falecido no mesmo ano do escritor, embora alguns meses depois. Mas a própria viúva, Valerie, segunda mulher de Eliot, pouco depois da sua morte, começou logo a organizar a correspondência existente, com vista à publicação...
Fazer render o peixe é tão humano que fede.
ResponderEliminarAs viúvas, às vezes, são o diabo, da literatura.
EliminarEstava a ler o seu texto e precisamente a pensar que é muito difícil um autor conseguir controlar o destino do que escreveu depois da morte. Se é famoso, é muito provável que venha a ser tudo publicado, mais cedo ou mais tarde. E o mesmo se dirá para outros tipos de autores, como os artistas, por exemplo. A não ser que queime tudo, como fez o Santa-Rita. Bom dia!
ResponderEliminarA exigência crítica do autor é, normalmente, mais apurada e rigorosa do que a da "mainstream". Mas também é verdade que os inéditos post-mortem, muitas vezes são preciosos testemunhos de qualidade. Se Max Brod tivesse respeitado escrupulosamente a vontade do seu amigo, nunca teríamos conhecido uma boa parte das obras-primas de Kafka...
EliminarUma boa semana.
Acho incrível que não se respeite a vontade de um morto que deixou instrução expressa acerca do que não queria que fosse publicado. É uma sem vergonhice. E os herdeiros e as editoras são como hienas
ResponderEliminarInfelizmente, do ponto de vista ético, é o que acontece em regra, nestes casos.
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