sexta-feira, 26 de abril de 2019

Da riqueza e das dificuldades da língua portuguesa


Comecei a ler Aquilino já tarde. Creio que pelos idos de 70. Mas já me habituara a identificá-lo pelas capas sóbrias das suas obras, editadas pela Bertrand. Na Póvoa e por Agosto, costumava ver um advogado, frente ao mar e reclinado na sua cadeira de lona, absorto em leituras aquilinianas; o pai do meu amigo Chico, que era médico, também não dispensava, nas férias balneares, o seu Aquilino, repimpado frente ao Atlântico poveiro.
Quando me iniciei nas leituras aquilinianas não estranhei muito o seu vocabulário luxuriante. Já frequentava Guimarães Rosa, nessa altura, bem como o minhoto Tomaz de Figueiredo, para não falar de Camilo, que caprichava em usar as palavras exactas. O transmontano, médico também, João de Araújo Correia, veio mais tarde à minha mão. Também ele purista, terrunho, rico em aplicar tesouros e termos quase esquecidos em tudo aquilo que escrevia.
Há dias, comprei mais um livro dele, de contos (23) curtos, distribuidos por 97 páginas. Usado custou-me apenas 2,50 euros. Pequena monta para tanta riqueza lexical. Logo, nas duas primeiras e breves narrativas, me deparei com 6 estranhas palavras de que só conhecia, por vaga ideia, três delas. Que aqui deixo:
1. lambisqueira
2. galhipo
3. madrigueira
4. estriga
5. prear
6. calipígia.
Tenho grandes dúvidas que as novas gerações sejam atraídas para estas leituras, que lhes serviriam de enriquecimento notório da sua limitada língua portuguesa que, resumidamente, praticam. Sempre frenéticos e à procura de qualquer novidade estridente, estas antiqualhas devem parecer-lhes odiosas. Mas, com isso, estarão cada vez mais condenadas aos grunhos quotidianos do costume. E é pena!

para a Maria Franco, que é fã de Araújo Correia, com estima.

6 comentários:

  1. Esta colecção "Duas Horas de Leitura" era bem interessante. Na Tabacaria da minha madrinha recebíamos estes livros e eu quando tinha tempo livre li-as sempre por ali:-)
    Era a minha descoberta da literatura.
    Boa tarde!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A Inova sempre primou pela qualidade. E esta colecção de bons autores era muito popular e de preço módico. Embora não a tenha completa, guardo vários números comigo.
      A minha iniciação pela literatura creio ter-se dado através da Sá da Costa.
      Um bom fim-de-semana.

      Eliminar
  2. Não tenho esta edição.Tenho "Os melhores contos " da Arcádia e "Contos bárbaros"
    da Biblioteca Básica Verbo. E como disse, aprecio muito não só a escrita como
    os retratos da gente do Douro, com uma linguagem muito própria. Agradeço a
    referência e desejo-lhe um bom fim de semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mal faria se não falasse no seu gosto, que eu também acompanho.
      Araújo Correia tem uma prosa movimentada e é um mestre a usar palavras justas, que dão uma nitidez notável ao que conta e nos transmite.
      Retribuo os seus votos, cordialmente.

      Eliminar
  3. Calipígia… que boas as palavras!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há no Museu de Nápoles uma escultura romana, em mármore, denominada: Vénus Calipígia.

      Eliminar