sábado, 6 de abril de 2019

Memória de Belas


De Belas, eu poderia dizer muita coisa, mas vou ater-me ao essencial que me ficou, definitivo. Até porque - pecado meu original - não consigo lembrar-me da primeira vez que lá fui. Mas sou ainda do tempo em que, por Setembro, lá iam estadiar, em quintas frondosas, algumas famílias ricas de Lisboa, até venderem os terrenos para urbanizações selvagens e mais rendosas aos empreiteiros saloios que já tinham destruído a natureza primitiva e singular do Monte Abraão. Onde num Agosto solitário veio a morrer Ruy Belo - acrescente-se - num andar anónimo por entre a floresta de betão, alcantilada.
Depois, vem-me à memória, e em caminho, um chalet derruído, debruçado sobre a ribeira do Jamor, que foi pertença ancestral da família do meu amigo J. N.. Por essas bandas, tive também lições de condução, por dias e dias que me pareceram, na altura, intermináveis e fastidiosos. Adiante.
Agora, há um tempo que por lá não passo. Nem sei se o pitoresco mercado ainda existe ou se a estação de Correios, em cenário antigo de decoração datada, ainda funciona. A modesta pastelaria dos Fofos de Belas é que ainda pode adoçar a boca dos passantes, se por lá pararem, antes de seguirem pela estrada da Idanha ou, em retorno, quiserem voltar a Queluz. Percurso este que me traz afectuosas recordações de um princípio de tarde primaveril...



Por Belas andei, também, em busca de vestígios de António Nobre, para um artigo que foi publicado no nº 8 dos "Cadernos do Tâmega", de Dezembro  de 1992. Um velho barbeiro, ainda em exercício, localizou-me o edifício de um dos hotéis (modestíssimo) onde se hospedara o poeta do , quando, em busca de ares lavados e de saúde para a sua tuberculose terminal, por lá se aboletou. Expulso, devido às hemoptises frequentes, e por causa de outros clientes, viera depois hospedar-se na York House, às Janelas Verdes, em Lisboa.
Da torre antiga dos Coelhos, e do Paço de D. Pedro I, mas que D. Duarte ainda habitou, julgo-a hoje integrada na Quinta do Senhor da Serra que, outrora, era anualmente franqueada ao povo, para uma romaria afamada. Até que os senhores Marqueses de Belas se cansaram da devastação a que os seus campos eram sujeitos sob pretextos religiosos. E do lixo que ficava dos piqueniques populares, nesses domingos de reinação ruana...


Entretanto, a vila ganhou o sossego dos condomínios fechados e o golfe aristocrático dos campos relvados a perder de vista, em zonas reservadas, tornando-se cada vez mais igual a outros espaços, que abundam por aí.
Foi perdendo, aos poucos, o seu encanto primitivo e que eu apreciava tanto.

6 comentários:

  1. Achei bastante interessante. Bom fim de semana.

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  2. Conheço mal Belas, mas gostei da ruína da última fotografia. É a torre antiga? Bom Domingo!

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    1. Creio ser da Torre(-paço) que era pertença da família dos Coelhos (séc. XIV) que tiveram papel importante na morte de Inês de Castro, influenciando D. Afonso IV. Quando D. Pedro I subiu ao trono, tomou posse de todos os seus bens e mandou matar um deles. O outro fugiu para Espanha.
      Retribuo, cordialmente.

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  3. A torre parece-me ser do Paço Real de Belas que foi dos Marqueses de Belas. A última vez que fui a Belas fui tentar ver este palácio que agora é utilizado para festas.
    Boa tarde!

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    1. Também creio que é. Da última vez que por lá andei, notei obras em andamento...
      Uma boa noite.

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