Chamemos-lhe Columbina S., embora ela se assemelhasse mais a uma coruja e tivesse, de rosto, uma assimetria de faces morenas muito pronunciada. De altura bastante baixa, o tom de voz era bem colocado, forte, e dava-lhe vulto, logo no início das conversas. E, apesar de feia, era uma sedutora de simpatias, pelo menos. Cordata, habitualmente, tinha porém um grande sentido de humor - muitas vezes, e com vontade, me ri com ela, às bandeiras despregadas, de coisas que ela me contava ou comentava, num agudo sentido de humor, que possuía intrinsecamente. Sexagenária, era também solteira, mas nunca me pareceu infeliz. No fundo, sempre achei que ela estava de bem com a vida que levava.
Não lhe sabia a profissão, nem o Manuel, meu subordinado, que ma tinha apresentado, mas sei que se dedicava a alguns serviços burocráticos que ia prestando com gentileza a alguns amigos e conhecidos: certidões, preenchimento e entrega de IRS, procurações e quejandos. Nunca cobrava contas nem facturas, mas todos a recompensavam do seu trabalho, naturalmente e bem. Creio que era disso que vivia e das rendas de umas duas ou três casas modestas que possuía na linha de Sintra. Foi assim que uma parte do meu grupo de trabalho foi entregando a Columbina os seus papéis e documentos do IRS, para ela os ir levar às Finanças. Eu próprio também o fiz, durante 3 ou 4 anos.
Não me recordo já dos pormenores, mas sei que a dada altura o Pinheiro recebeu, em casa dele, uma multa do Fisco, por falta de declaração do IRS. E a multa não era pequena. Sucessivamente, mais multas foram chegando a mais 4 ou 5 elementos da empresa que tiveram de pagar coimas elevadas, para a época. Preocupadíssimo, dirigi-me às Finanças, mas, felizmente, tudo estava em ordem quanto a mim. Columbina S. tinha entregado a minha documentação e a do Manuel, apenas. O resto levou descaminho total. E a senhora nunca mais apareceu pela zona - não mais soubemos dela.
Plagiando Eça, eu comentaria para concluir: singularidades duma sexagenária morena...
Não lhe sabia a profissão, nem o Manuel, meu subordinado, que ma tinha apresentado, mas sei que se dedicava a alguns serviços burocráticos que ia prestando com gentileza a alguns amigos e conhecidos: certidões, preenchimento e entrega de IRS, procurações e quejandos. Nunca cobrava contas nem facturas, mas todos a recompensavam do seu trabalho, naturalmente e bem. Creio que era disso que vivia e das rendas de umas duas ou três casas modestas que possuía na linha de Sintra. Foi assim que uma parte do meu grupo de trabalho foi entregando a Columbina os seus papéis e documentos do IRS, para ela os ir levar às Finanças. Eu próprio também o fiz, durante 3 ou 4 anos.
Não me recordo já dos pormenores, mas sei que a dada altura o Pinheiro recebeu, em casa dele, uma multa do Fisco, por falta de declaração do IRS. E a multa não era pequena. Sucessivamente, mais multas foram chegando a mais 4 ou 5 elementos da empresa que tiveram de pagar coimas elevadas, para a época. Preocupadíssimo, dirigi-me às Finanças, mas, felizmente, tudo estava em ordem quanto a mim. Columbina S. tinha entregado a minha documentação e a do Manuel, apenas. O resto levou descaminho total. E a senhora nunca mais apareceu pela zona - não mais soubemos dela.
Plagiando Eça, eu comentaria para concluir: singularidades duma sexagenária morena...
Ah!Ah!Ah! Mas que rico texto! Quando comecei a ler pensei que fosse mesmo de um escritor como Eça de Queiroz ou... até ver IRS!
ResponderEliminarAdorei o texto! Se é verdadeiro, teve sorte! Lá simpatizava consigo a Columbina S.
Bom dia:))
Mais vale cair em graça, do que ser engraçado - lá diz o povo..:-)
EliminarE tive muita sorte.
Obrigado pelas suas palavras.
Uma boa tarde.