terça-feira, 2 de abril de 2019

Divagações 145


O cantautor Etiénne Daho (1956), nascido na Argélia então francesa, mas que tem feito carreira em França, dizia que: Ce sont les premières années qui vous construisent. Après, on se démerde et on fait ce qu'on peut.
Eu não seria tão radical, mas estou de acordo que grande parte dos poetas se perdem pela idade madura e, na velhice, se vão, normalmente, glosando a si mesmos, numa lamentável decrepitude. As excepções são raríssimas. Romancistas e pintores, com frequência, resistem melhor, porque trabalham menos com o desejo. E ordenam melhor o caos fílmico-cerebral, quando são verdadeiros artistas.
Acredito que é entre os 30 e os 40 que se atinge a plenitude, em quase todas as actividades. Por isso, que não se lamente Rimbaud, Nobre e Cesário. Mas saudemos, entretanto, Lampedusa e Matisse pela criatividade dos seus últimos anos. E Saramago, porque não?

2 comentários:

  1. O confronto com a obra obriga-os a olhar para si mesmos e nem todos aguentam, verem-se reflectidos no espelho, quando acordam.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade. Mas também há um amontoado de experiência que, mesmo a frio, se poderia trabalhar...

      Eliminar