quinta-feira, 21 de abril de 2016

Mercearias Finas 112


O arroz de carqueja minhoto pouco mais é do que um arroz branco, simples, levemente sombreado pelo combustível vegetal que lhe dá gosto. Mais um raminho de salsa fresca, por cima, para lhe dar cor e sabor. Mas na Beira Interior fia mais fino e é mais rico. É, por si só, uma refeição suculenta onde entra o fumeiro regional: farinheira, chouriço de sangue, presunto, toucinho, chouriço corrente de boa cepa. Se bem composto, é uma delícia de sabores, como aquele que eu comi num restaurante do Fundão, há duas semanas atrás. Caldoso, de preferência, como era o caso.
Quanto ao acompanhante vínico, eu tinha as melhores lembranças da Adega Cooperativa da Covilhã. Fora seu cliente fiel e obrigado, no final dos anos 70, num restaurante de uma rua paralela à Almirante Reis em que, por razões pessoais, refeiçoei, com frequência, em Março de 1978. Nunca me decepcionei com esse vinho tinto beirão. E foi por isso que, para acompanhar o Arroz de Carqueja, no Fundão, escolhi, sem pestanejar, um Piornos, lotado com Jaen e Trincadeira, de 2011.
Se a Jaen é uma das minhas castas fetiche, a Trincadeira nem sempre goza da minha preferência. Mas esta aliança, da Adega da Covilhã, é soberba. Há muito que não provava um vinho que me agradasse tanto. Na maturação, no aroma e no sabor. Este tinto leva uns meses em barricas de carvalho e sai de lá esplendoroso.
Afortunado será quem o puder provar...

7 comentários:

  1. Quando comecei a ler nem estava a reconhecer o arroz de carqueja, mas afinal o que eu conheço e de que gosto é o beirão. :)
    Quanto ao Piornos, nunca experimentei.
    Continuação de boa viagem.

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    1. Pois eu só me iniciei, há dias, e que apaladado que ele estava!
      O Piornos com estas duas castas foi uma experiência notável. Ainda o procurei em mercearias e numa Garrafeira da cidade, mas nada..:-(
      Voltámos a ser sedentários, mas andamos quase 3.000 Kms...

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  2. Lá pelo Douro/Trás os Montes também temos um arroz de carqueja, diferente destes dois que refere - praticamente uma cabidela de galinha, mas com a dita carqueja. Pessoalmente, "não me assiste", prefiro bem a versão beirã, seja caldosa, seja seca. E se tiver ao lado umas costelinhas de vinha-d'alhos, pois tanto melhor.

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    1. Não iriam mal, não senhor, as ditas costelinhas. Mas, em abono da verdade, tenho que dizer que mesmo só com o Arroz de Carqueja, fiquei de papo cheio... E muito agradado com este prato tradicional das Beiras.
      Se lá voltar, repetirei.

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  3. Embora pense que o outro lado da serra tem melhores vinhos, também do lado da Covilhã se fazem bons vinhos, Piornos é um deles já bebi várias garrafas, o que não falta em Portugal de Norte a Sul são bons Vinhos, está boa a sua associação de fetiche a casta, o vinho realmente está historicamente ligado como parte do feitiço que transmuta o homem para o animal e para o divino.

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    1. Estamos de acordo no essencial e eu sublinharia que nos últimos 30 anos houve em Portugal um nítido progresso qualitativo, nos vinhos em geral. Com particular destaque para as zonas do Douro e do Alentejo. Pena que o Dão não tenha evoluído tanto, muito embora se possam referir algumas marcas de muito boa qualidade: Vinha Paz, Quinta das Maias, Quinta dos Carvalhais...

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