terça-feira, 10 de junho de 2014

Uma oferta singular



O que deverá ficar na memória do último passeio pelo Douro são, certamente, recordações muito diversas. A maior parte delas pertencem à memória individual e imaterial, intransmissível, desde o olhar, passando pelos afectos e vivências.

Outras, como demonstram as imagens, irão perpetuar, ainda por algum tempo, uma história individual e material, ora legada a outrem, de um determinado tempo e espaço.
Das suas origens fafenses, as peças de roupa de casa, trabalhadas na perfeição ou ainda em bruto, vieram no bojo do carro numa enorme caixa que ocupava os assentos traseiros. Ao encanto, quando se abriu o precioso “baú”, aliou-se, quase de imediato, a sensação táctil de avaliar os diferentes tecidos.

Contudo, a maior lição que se tira da observação e da conservação das peças é o apreço pelo trabalho manual. O legado de uma habilidade de mãos, executando os padrões com paciência, saber e perfeição, que transmite o gosto e o estatuto social de um tempo que passou irremediavelmente. De facto, o “pronto-a-vestir” e o fabrico em série abastardou a perfeição manual, uniformizou o gosto e reduz, cada vez mais, a confecção a um mero exercício de produzir “trapos”, sem qualidade, gosto ou durabilidade.

Para completar o generoso presente, ainda vieram três caixas de suplementos: entremeios e afins. Uma inspiração para tentar seguir as pisadas anteriores, embora sem a habilidade e a perfeição das anteriores mestras.

É caso para repetir um dito que nos ficou na memória: “os objectos nobres irão ter com aqueles que os estimam.”



Post de HMJ, dedicado aos ofertantes generosos

4 comentários:

  1. «os objectos nobres irão ter com aqueles que os estimam» - um amigo comum diz o mesmo em relação aos livros.

    Para mim, o pronto-a-vestir foi a maior das invenções. Vimos, gostamos e experimentamos e nem sempre gostamos de nos ver com o que escolhemos. Quando a escola era feita pela revista, às vezes havia grande desilusões...

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  2. Para MR:
    preocupa-me a evolução nociva do pronto-e-vestir. A produção barata à custa de uma escravatura em países distantes.

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  3. Respostas
    1. Para Isabel:
      Pois são ! A pequena oficina de costura já começou a funcionar !

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