quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A par e passo 64


Uma literatura vale o que vale o leitor: tudo aquilo que diminui este em relação à qualidade da linguagem, à atenção dedicada, e o torna céptico no que diz respeito aos julgamentos que lhe querem impor, pré-formados, é funesto à aceitação das letras. O mesmo é dizer que a publicidade comercial, a facilidade e a rapidez de espectáculos com imagens directas, a instituição de prémios literários, o desejo de impressionar pela surpresa, de agir pela novidade forçada, pelo choque das expressões e reaproximações abruptas, enfim, a multiplicação das obras, não são condições favoráveis à formação de um público mais sensível às subtilezas e profundidade da arte.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 221).

8 comentários:

  1. Concordo. Penso muitas vezes que a actual mania da novidade, da originalidade a qualquer preço e da consequente necessidade de provocação, não contribuem em nada para o engrandecimento da cultura e da humanidade.

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  2. E o mais curioso, Margarida, é que estas palavras foram escritas em 1945. Numa antecipação "profética" do que se tem vindo a intensificar imenso nos ános mais recentes.

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  3. Também me dou mal com a rapidez que a actual sociedade exige e a necessidade constante de novidades. Pouco ou nada se saboreia e se aprende assim, na minha opinião. Às vezes, acho que nasci no tempo errado. :-))) Não gosto de jogos de computadores, não estou nas múltiplas redes sociais, detesto o frenesim dos centros comerciais, não gosto de almoçar ou jantar de pé, não gosto de filas, não gosto de ver as coisas à pressa, vejo pouca televisão porque há poucos programas que me interessam, aprecio o silêncio e música mais suave, gosto de reler e rever certas obras, gosto de apreciar, saborear os momentos. E gosto de ser assim. ;-)) E não nego que me divirto com a confusão que esta minha atitude mais slow, às vezes, causa. ;-)))

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  4. Em muito daquilo que fala, Sandra, eu sinto o mesmo, e faço em contraciclo, muito embora a pressão circundante seja um enorme problema que obriga a um estóico exercício de sobriedade.
    Na leitura, pese embora razões de idade, não me preocupo muito em descobrir "notáveis" escritores novos, porque o tempo já não será muito e, em 10 ou 20 novos, se encontrar um, bom, é uma sorte. Prefiro voltar aos clássicos ou ler, dos meus autores preferidos, obras que ainda não tenha lido.
    Abro, no entanto, algumas excepções, quanto à Música..;-)
    Um bom dia, para si!

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  5. Não poderia concordar mais com o que diz relativamente à pressão circundante...oh,oh...
    E quanto à Música, também concordo. :-)
    Bom dia!

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  6. O mais aborrecido do ritmo de vida actual é a falta de tempo para ler o que se deseja e as pilhas de livros vão-se acumulando...
    Eu não renego tudo o que é novo, gosto de alguns livros dispersos, de autores diversos, de quem até nem sou fã. Do que conheço! Porque há tanto que não conheço!

    (Gostei imenso do "Gosto do Saké" e tenciono ir ver "Viagem a Tóquio".)
    Boa noite!

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  7. Nunca poderemos chegar a tudo, Isabel, mas a idade vai aconselhando a que nos poupemos e obriga a que seleccionemos, necessariamente.
    Mas a Isabel ainda não chegou à idade da "poupança", ainda tem muitos anos à sua frente..:-)
    E não perca a "Viagem a Tóquio"! Em último caso, pode vê-la no Youtube, mas não é a mesma coisa...
    Uma boa noite, para si!

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  8. Achei piada à idade da "poupança"! :)

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