Estava eu dividido por pruridos de exigência e qualidade poética, quando fui castigado (pelo destino?) com um pequeno acidente doméstico de transvase, com inúmeros estilhaços de vidro... Eu simplesmente resistia à inclusão, no Arpose, de um poema (O Chale) do esquecidíssimo Afonso Lopes Vieira (1878-1946).
Porque sempre andou por aqui (em Portugal, e no Brasil, ainda é pior) uma enorme confusão entre juntar versos e fazer um poema, porque são coisas que não têm nada a ver, uma com a outra. E eu, com a idade, estou cada vez mais ortodoxo e intransigente. Mas, hoje, para me penitenciar, vou lançar, neste espaço virtual, uns versos de Lopes Vieira que, no meu entender, estão na fronteira, entre uma coisa e outra.
Por outro lado, este poeta leiriense, que também andou pelos brasis, sempre me foi simpático, apesar de monárquico - enviezamento que tardo em entender... Tinha ortografia teimosa e própria, usava monóculo, mas era um cavalheiro que amava Portugal - e, isto, não se pode nem deve esquecer.
E o poema, embora fraquinho, é dos melhores que encontro em "Canções do Vento e do Sol" (1911). Aí vai, portanto, com a minha benção contrita:
Sobre os teus hombros, leve e assim poisado,
está o teu chale agora semelhando
as asas de algum anjo fatigado
que se cansassem pelo ar, descessem,
e abatessem, fechadas, palpitando.
E as tuas mãos quietas, que se ageitam
sob o chale, que as cobre com carinho,
são duas rolas tímidas que espreitam
da branda calentura do seu ninho.
E se de leve no ar palpita e esvoaça
sobre os hombros flutuando,
o chale, quando a ti o vais cingindo,
ha no gesto subtil aquela graça
que se desnuda, sorrindo,
e se agasalha, corando...
Também simpatizo com o ALV. E gosto dos Animais nossos amigos.
ResponderEliminarPois esse livro nunca li, MR. Mas ALV tinha títulos bonitos e apelativos como "País lilaz, desterro azul"...
ResponderEliminarÉ um livro para crianças. :)
ResponderEliminarPois, MR, foi o que calculei.
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