As nuvens estão mal acamadas junto à água e, por isso, a luz rala da manhã ilumina o rio. Mas, à medida que se afastam, subindo sobre o Tejo, vão formando um azul cinzento compacto, quase plúmbeo.
Dois melros namoram-se na antena de televisão, em frente, junto à chaminé decrépita que já viu tempo e tempos melhores, na sua vida. Os melros, um mais alto, outro, mais abaixo, juntam-se por vezes, e debicam-se. Mas eis que se multiplicam: chegam mais 3, e já são 5. Não cantam. Um estará a mais, obviamente. O ar está lavado e muito fresco. De Almada (?) chega o ruído compassado de fogo de artifício. Restos de halloween ou começo de Todos os Santos?
Aqui há 256 anos, um pouco mais tarde, cerca das 9,40hrs., a Terra e a Água uniram as forças e iras naturais para destruir Lisboa. O rei D. José e a sua corte, prudentemente, instalaram o seu aduar e abarracamentos na Ajuda, e de lá não saíram, durante meses. O Marquês, corajosamente, arregaçou as mangas, e pôs-se ao trabalho; no próprio dia 1 de Novembro de 1755, assinou decretos e despachou directivas para reordenar o caos. Alguém cunhou, por ele, a célebre frase: "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos!".
Os melros namoram no Outono? Não é só na Primavera? Pássaros curiosos, os melros...
ResponderEliminarGostei muito. O início fez-me lembrar o Jimenez do outro dia...
Sobre os melros, c. a., não garanto nada..:-)
ResponderEliminarFiquei lisongeado com a sua comparação embora, como disse em Julho de 2011, saiba que: as ilhas, em Arte, são uma ficção imperfeita.
Um bom resto de semana!