sábado, 4 de maio de 2019

Contorcionismos


Em tempos de canícula, tenho por costume, às vezes, depois de subir a rua do Alecrim, virando para o Chiado, fazer um pausa e entrar na Igreja da Encarnação. O seu interior é amplo, fresco e silencioso. Os bancos de madeira, embora não sendo muito confortáveis, dão para descansar, sem grandes incómodos, durante uns 5 ou 10 minutos, até voltar a seguir viagem. Por outro lado evito, momentaneamente, as hordas  ruidosas dos turistas low cost que preferem tirar fotos sentados ao lado do Fernando Pessoa, de Lagoa Henriques ou, então, entrar na Igreja do Loreto, que fica defronte à da Encarnação. Sobretudo os turistas italianos, por razões patrióticas e óbvias, naturalmente.
Ora, há dias, lá retomei o hábito e entrei no Templo. Havia apenas uma mulher rezando, silenciosamente e de pé, frente a um dos altares do lado esquerdo da Igreja. Eu sentei-me no último banco do lado direito. Não se teriam passado 5 minutos, entraram duas jovens japonesas resmoneando alto, que também se sentaram, bastante mais à frente e continuaram na sua ladainha nipónica. Pouco depois, chegou um japonês magro e desengonçado, que deveria ser o pai delas, pela idade. Disse-lhes qualquer coisa e desatou logo a fotografar a torto e a direito, todos os altares e cantos da igreja. Não satisfeito, deitou-se de costas ao comprido, no corredor central, para tirar 2 fotografias ao tecto pintado do templo...
Eu iria apostar que, sobre a história da Igreja da Encarnação e seus aspectos culturais, ele nada saberia, nem se terá documentado, porventura. Depois disso, seguiu, tipo ratazana coleante, para a sacristia, em passos lépidos e coscuvilheiros, de máquina em punho.
Incomodado, levantei-me e saí...
Deus também já não se livra destes turistas de meia tigela.

2 comentários:

  1. Deitou-se de costas no corredor central... que bonita figura,
    sem dúvida. Sem qualquer noção do ridículo. Eu também me teria
    sentido incomodada. Muitas vezes entrei nas igrejas daquela zona
    para "ouvir" o silêncio. Deixei de frequentar aquela zona por já
    não me sentir bem com tanta gente num tão limitado espaço.
    Outros tempos, por vezes bem difíceis de suportar. Boa noite.

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    1. Aquela deve ser a "zona" mais povoada de Portugal... uma autêntica babel de línguas. Escapam apenas algumas ruas adjacentes, mas poucas.
      E depois há estes casos de quem não respeita os usos e cultura, o que ainda é pior.
      Bom dia.

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