terça-feira, 8 de setembro de 2015

Da leitura (4)


A escrita e obra de Simone de Beauvoir (1908-1986) parecem não ter envelhecido com os anos. Ando a ler "Balanço Final" (Tout Compt Fait, 1972) que me está a agradar mais do que a sua obra autobiográfica anterior: La Veillesse, de 1970. Naquele nota-se um estilo mais solto, uma voz mais liberta na forma de explicar algumas tomadas de atitude (políticas, afectivas...), dos seus últimos anos. E a obra ganha com isso.
Em tradução de Bertha Mendes, para a Bertrand, aqui deixo um pequeno excerto da página 29:

"...Toda a busca do ser está votada ao revés, mas este revés pode ser enfrentado. Renunciando ao vão sonho de nos fazermos Deus, podemo-nos simplesmente satisfazer com existir. Saber não é possuir e no entanto não me canso de aprender. Desejava participar na eternidade de uma obra em que me encarnasse, mas, antes de mais nada, queria fazer-me ouvir pelos meus contemporâneos. São as minhas relações com eles - cooperação, luta, diálogo - que durante toda a minha vida, maior preço têm tido para mim. ..."

4 comentários:

  1. se eu tivesse talento para tal, era assim que gostava de me descrever. Ser imortal, sim, mas isso é apenas um gostinho. Contar para alguma coisa no mundo em que vivo, isso é o que importa.

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    1. A reflexão é, na verdade, de uma concisão exemplar. Convém lembrar, porém, é uma das poucas filósofas, reconhecidas como tal.

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  2. Foi ouvida, lida e discutida pelos seus contemporâneos.
    Há pouco li um conto dela com enorme prazer.
    Gosto muito dos livros autobiográficos de S. de B. e li este Balanço final há uns anos.
    Bom dia!

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    1. "La Veillesse" li-o pouco antes de entrar na minha, biologicamente, mas não me ajudou muito... Menos entusiasmo e um pouco de desilusão me despertou o "De Senectute", que Cícero escreveu aos 80 anos.
      "Balanço Final" parece-me bem melhor e um bom ajuste de contas com a vida.
      Bom dia!

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