quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A par e passo 146


O meu esboço limita-se a tentar apresentar-vos o estranho progresso duma certa mudança de linguagem em determinado sentido. O pudor na palavra parece literalmente pervertido; a reserva muda de objecto; o que se louvara outrora já não ousa enunciar-se; o que se censurava, o que se calava, expõe-se agora a despropósito. Assistimos, consentimos, participamos, sem resguardo, a um abandono universal da expressão directa das coisas antigamente mais veneradas ou mais sagradas.

Paul Valéry, in Variété IV (pgs. 170/1).

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