É de noite e ele precisa de aterrar
antes que se acabe o combustível.
Assim terminam todos os seus poemas
tentando exprimir numa linguagem pública
um sentimento privado.
A sua ambição é a linguagem do piloto
falando para os passageiros
a meio de uma situação desesperada:
parte engano, parte esperança, em parte verdade.
Todos os poemas terminam de forma igual.
Feitos em pedaços contra um morro escurecido
que não estava nos mapas.
E logo falam os destroços: a fuselagem,
a cauda como sempre, intacta,
o cheiro de coisa queimada consumida pelo fogo.
Porque nenhuma palavra sobrevive.
Mario Montalbetti, in El lenguage es un revolver para dos (2008).
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