sábado, 4 de julho de 2015

Um soneto de Antonio Gamoneda (1931)


Aqui tive um amor, uma impura
floração de sangue enamorado,
mas do sangue mais desesperado
onde a luz não existe na sua treva densa.

Desapareces como um anjo; como a escura
dor da juventude; como um gládio
de amargura e de vento, derrotada
pelo ferro e a sede da ternura.

Em ti acaba a noite, e na tua margem,
a água amante e a paixão mordida,
e, na tua boca, a minha verdadeira.

Unicamente porque morre, canta
a minha palavra nua e retorcida:
em direcção a ti, como um punho, se levanta.

3 comentários:

  1. É, sem dúvida, um grande poeta ibérico.
    Renovados agradecimentos..:-)

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    1. Em tempo:
      sendo, como é, um poema da juventude, não deixo de lhe notar algum eco de Neruda...

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