Da mesma forma que, sob o sono, acontece parecer que vivemos toda uma existência, enquanto o relógio não conta senão alguns segundos - assim, pelo sortilégio da leitura, também parece decorrer e esgotar-se toda uma vida; ou ainda, pela misteriosa operação da leitura de um poema, alguns instantes que seriam sem qualquer valor, insignificantes portanto, transformam-se numa duração maravilhosamente medida e enriquecida, que se torna numa jóia preciosa que se vai incrustar na nossa alma; e, por vezes, numa espécie de fórmula mágica, um talismã -, que conserva em si o nosso coração, e que se apresenta ao nosso pensamento nos momentos de emoção ou de encantamento como a expressão mais pura ou mais poderosa que o pode atingir e elevar mais alto.
Paul Valéry, in Variété IV (pgs. 149/150).
Belíssimo texto. Bom dia!
ResponderEliminarO que Valéry diz, parece inscrever-se no que já tinhamos pensado, mas não soubemos dizer..:-)
EliminarBom dia, Margarida!
O que acontece imenso. :)
EliminarBom dia a ambos.
Estou inteiramente de acordo, MR.
EliminarBom fim-de-semana!