Lorca gostava de Gongora, em prejuízo de Quevedo. Pensando bem, talvez se justifique esse afecto literário, porque o poeta Federico não deixa de ser um barroco cultista que escrevia curto, em resumo lírico - mas que, às vezes, chegava ao derrame...
Todas as memórias físicas ou mentais guardam, umas e outras, preciosos documentos, valiosos para os seus detentores e para outros alguns, por sua temática própria, e porque são antigos na idade. Valem o que valem, consoante quem os vê.
Assim, pode ser que uma velha padaria desactivada, próxima do Palácio de Queluz, conserve ainda, no lambril interior da loja, velhos, azuis e bonitos azulejos oitocentistas. Poucos saberão, no entanto, que o alvará original está em nome de um francês, que foi o seu primeiro proprietário e artífice.
Ou que uma antiga e modesta estalagem, na margem do Ave, que abre sazonalmente, ostente, com galhardia, na sala de jantar e como ex-libris da casa, uma antológica garrafeira pequena, mas notabilíssima.
Olá. Não venho aqui por Lorca, cuja persona literária me confunde, tal como frequentemente saltito entre, cito-o, “resumos líricos” e “barrocos derrames”.
ResponderEliminarNão é fácil, sobretudo quando só se tem um livro dele, e nele, sem diminuir as circunstâncias que o levaram a viver como poeta muito para além da criação literária (haja quem…), entre tantas palavras que me deixam horrivelmente indiferente, encontro amiúde algumas centelhas do seu génio-daimon.
Esqueça, p.f., o presunçoso tom do parágrafo anterior. No fundo, uma vez que dentro de alguns dias irei passar um par de semanas perto da foz do meu Ave natal, gostava apenas de perguntar-lhe se a estalagem que referiu é visitável e, caso seja, onde se situa exactamente?
Já gostei mais de Lorca, sobretudo na juventude em que a exigência é menor e o entusiasmo, às vezes, excessivo. Hoje, dos castelhanos, prefiro Quevedo, Aldana e Jimenez e, recentemente, descobri Antonio Gamoneda, que me parece um bom poeta.
EliminarEm relação à pensão-estalagem, infelizmente, não poderei ser muito preciso. Sei que é em Delães, próximo de Riba d'Ave. A foto foi-me mandada por um familiar, que sabe que eu aprecio bons vinhos, e que já lá pernoitou algumas vezes.
Já lhe pedi que tentasse lembrar-se do nome (de momento, ele não se recordava). Veremos...
Cordialmente,
APS