domingo, 8 de janeiro de 2012

Ruth Rendell



Nunca gostei dos policiais escritos pelo agora agente da cultura F. J. Viegas. Dou de barato que sou um ortodoxo em relação a romances policiais, mas ninguém poderá dizer que sou insensível a uma prosa enxuta e objectiva, seja ela da melhor tradição inglesa, ou numa tradução, limpa, portuguesa que, afora as gralhas ( as editoras, agora, poupam sempre na revisão), faça sentido e onde se note a qualidade original e a marca de um bom escritor.
Neste início de ano, ando ainda às voltas com a literatura dita policial: na berlinda, o nº 483 ("A sleeping life") da Colecção Vampiro, Enigma na Escuridão, de Ruth Rendell (1930), considerada uma das melhores escritoras de policiais, da sua geração. Até estou de acordo quanto à qualidade da sua escrita. Ora atente-se neste bem interessante bom naco de prosa (em tradução de Raul Sousa Machado):
"...A idosa senhora estava rodeada de preparativos para o almoço da família. No chão, a um lado da poltrona, estava uma panela cheia de batatas mergulhadas em água, e as cascas, também imersas, jaziam noutra panela próxima. Quatro maçãs próprias para assar esperavam os seus cuidados. Numa travessa estava uma boa dose de massa para bolos, já misturada e batida. Aparentemente, era deste modo que a mulher, apesar da sua idade vetusta, contribuía para as lides caseiras. Wexford lembrou-se de Parker ter dito que a avó era um espanto, e agora começava a compreender porquê.
Durante uns momentos ela não lhe deu atenção, servindo-se porventura dos privilégios do seu estatuto matriarcal. Stella Parker deixou-os a sós e fechou a porta. A velha senhora abriu ao meio a última das vagens, um exemplar enorme, e disse-lhe, como se fossem velhos conhecidos:
- Quando eu era rapariga, costumava dizer-se que se se encontrarem nove ervilhas numa vagem e as pusermos sobre a porta de entrada, o primeiro homem a passar será o nosso único e verdadeiro amor.
Dito isto, atirou com as nove ervilhas para dentro da malga e limpou os dedos esverdeados ao avental. ..."

2 comentários:

  1. Por acaso até nem desgosto dos policiais do Viegas e do seu inspector Jaime Ramos.
    Li uns policiais (não muitos) de Ruth Rendell há uns anos e gostei.

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  2. Posso estar a ser pouco isento, porque nunca fui muito à bola com o indivíduo.
    Quanto a R. R., acho que ela escreve, pelo menos, muito bem.

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