quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De um prefácio de Manuel da Fonseca


O prefácio de Manuel da Fonseca (1911-1993) antecede o livro de contos "O Fogo e as Cinzas", na sua 9ª edição, de 1981. O escritor refere que o livro se publicou por insistência e ajuda de Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira e José Cardoso Pires. E devido à procura minuciosa de Ângela, mulher de Carlos de Oliveira, pelos jornais, onde os contos tinham sido publicados anteriormente. Mas Manuel da Fonseca refere, também, nesse prefácio o cenário, real, deles. E alguns aspectos da sua criação e escrita. Segue:
"...As pessoas de quem escrevo são as que houve na minha vida. Gente de família ou conhecida. Nelas me fui descobrindo e sendo eu próprio as vidas que contei. É isso, eu. Até quando escutava a vida de algum desconhecido, logo descobria que esse desconhecido era dois ou três indivíduos que eu já conhecia um dos quais, com o tempo, começava a ser eu. Contar a vida dos outros é interrogar a nossa própria vida. Só o tempo depura. Ficção constrói-se com o que fica do passado. Revive-o. (...) No que diz respeito à acção, creio que, tal como todos os autores, tenho acumulado valioso material. Que só por si não chega. O que conheço é apenas um ponto de partida para a imaginação criar. Apenas a imaginação conforma e desenvolve e completa coerentemente os incríveis factos acontecidos na vida. Apenas ela lhes dá realidade. Creio ter lido, não recordo onde, que se é certo que a imaginação do autor é a vida da ficção, não é menos certo que a vida é o mais imaginoso dos autores. ..." 

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