É uma obra de grande solidez argumentativa, pese embora a ortodoxia marxista da análise. Por vezes, também, um pouco árida para quem, como eu, não é versado em economia. Mas abre clareiras de entendimento para o que foram os fundamentos da economia feudal. O livro (em 9 tomos), de Armando Castro (1918-1999), intitula-se "A Evolução Económica de Portugal - dos séculos XII a XV", e tenho vindo a lê-lo, espaçadamente. Coisas há, nele, que se prolongam para outros horizontes onde estou mais à vontade e que, através de associações lógicas, ajudam a perceber melhor as reacções, decisões estratégicas e comportamentos humanos. Por exemplo, a força do espiritual que se sobrepõe às mais justas reivindicações materiais. Mesmo em seres humanos incultos, ou pouco esclarecidos, o peso tirânico de índole espiritual da Igreja destruía qualquer veleidade de insubmissão às regras duras estabelecidas - através da ameaça de excomunhão. Mesmo em questões menores e terrenas, a Igreja fazia uso de isso, de uma forma perfeitamente injustificada e condenável. Passo a transcrever um exemplo, retirado do tomo VIII (pg. 50/51), da obra de Armando Castro, referida acima. Segue:
"...No ano de 1423, com efeito, reuniram-se no celeiro do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na presença do prior e tabelião geral do rei de Entre Douro e Minho os moradores dum dos seus domínios; as razões da assembleia são proclamadas no documento que refere o acontecimento: esses colonos do Mosteiro tinham deixado de cultivar em certas leiras dominiais a vinha contra o que lhes havia sido exigido, em consequência do que «o prior ganhara contra eles sentença de excomunhão». Os caseiros suplicaram que lhes fosse levantada tão terrível condenação (que aliás acumulava penalidades, as multas, com as religiosas). Ficamos a saber que o poderoso abade do mosteiro cruciano anuiu ao pedido desde que os colonos se comprometessem a cultivar as vinhas. Tendo sido levantada a excomunhão, os colonos assumiram compromisso solene de fazer as ditas vinhas, estabelecendo-se logo ali as glebas concretas que seriam atribuídas a cada um dos nove caseiros aí presentes. ..."
Conseguiu ler esta obra? Parabéns!!!
ResponderEliminarNão tenho a obra completa, MR. E confesso que é árida, mas bem estruturada. Vamos a ver se consigo ler os volumes que tenho (um já cá canta...), vou no princípio do segundo...
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