segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Memória 50 : Miguel Torga


Adolfo Rocha (1907-1995), médico que teve o seu consultório, muitos anos, no Largo da Portagem, em Coimbra, e usou o pseudónimo de Miguel Torga, nas lides literárias, faleceu a 17 de Janeiro de 1995. Não haverá, decerto, texto crítico sobre a sua obra em que não apareça o adjectivo telúrico (relativo à Terra), que ele adoptou, ou lhe colaram, em definitivo. Na minha modesta opinião, foi melhor contista que poeta. Apesar disso, se eu tivesse que escolher os 100 melhores poemas da língua portuguesa, como era moda fazer-se (e publicar-se), no princípio do século passado, não hesitaria em incluir o poema Bucólica, de Miguel Torga, nessa antologia. É um grande poema, na sua majestosa simplicidade natural. Segue:

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.

S. Martinho de Anta, 30 de Abril de 1937.

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