sábado, 22 de janeiro de 2011

Em louvor do Peneireiro



Nos jornais, recentemente, li que o francelho ou peneireiro das torres foi reintroduzido nos ares e céus de Évora. Fiquei contente, porque gosto muito de Évora e não gosto menos destas pequenas aves de rapina. Mas Évora foi apenas pragmática e natural, na resolução de um problema citadino. No centro histórico da cidade abundam, para além do razoável, os pombos e os ratos. E o peneireiro "sabe tratar" deles...
O primeiro peneireiro das torres, ao vivo e em liberdade, que vi, foi - por incrível que pareça - no coração de Lisboa. Julgo que em 1999. Acoitava-se num enorme edifício devoluto, de memória sinistra. E, numa manhã de Verão, aqui há cinco ou seis anos, quando começavam a construir, nesse edifício, um condomínio fechado, pareceu vir despedir-se de nós, do alto duma chaminé já desactivada. Olhou-nos sobranceiro e, passados 2 ou 3 minutos, levantou voo, alto, e nunca mais apareceu. Apetece-me, sempre, pensar que terá ido para o arvoredo de Monsanto. Felizmente, teve sucessor, para alegria do nosso olhar.
Há três ou quatro anos, da varanda a leste, apercebi-me do voo alto, ao fim da tarde, duma ave inesperada que logo me pareceu de rapina. Com os binóculos, consegui identificá-la: era um peneireiro das torres, ou francelho, outrabandista. Mais tarde, compreendi que era uma família: um casal e uma cria pequena. E, por aqui, ainda ele tem Natureza que farte, bichos aos montes e horizontes largos. Por isso, também, e apesar deste outrabandista ser mais esquivo do que o citadino, voltou-me o contentamento, de os ver altos, no seu voo elegante e nobre de aves de rapina.
P. S. : para H. N., por variadíssimas razões.

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