domingo, 14 de julho de 2019

Terceiras vias


Tenho a convicção enraízada de que grande parte das traduções que lemos, em Portugal, durante o século XX, de obras de escritores russos, foram feitas directamente das versões francesas. Duvido que houvesse muitos tradutores portugueses, por essa altura, que dominassem a língua eslava. O mesmo se poderia talvez dizer de obras originais chinesas e japonesas que, provavelmente, foram vertidas, já em segunda mão, de traduções inglesas. Raramente as editoras portuguesas tinham a franqueza de informar, no entanto, os leitores desse aspecto que, hoje, me parece ter alguma importância e que seria uma forma de honestidade intelectual.
Lembrei-me disto ao tomar conhecimento que Yukio Mishima (1925-1970), sendo um anglófilo conhecido, nunca facilitou nem permitiu que os seus romances fossem, em primeira mão, traduzidos para outra língua que não fosse a inglesa. E assim aconteceu até há bem pouco tempo: todas as obras publicadas em França, do escritor japonês, eram traduzidas do inglês. Só recentemente, e após a morte da sua viúva, que continuou a respeitar a vontade dele, apareceu em francês uma obra de Mishima traduzida do original. Trata-se de um dos seus primeiros livros, Confession d'un Masque (1949), que foi editado agora pela Gallimard, em tradução de Dominique Palmé, feita directamente do japonês.

2 comentários:

  1. José Milhazes,o grande tradutor de todos os clássicos russos,assim aqui é esquecido? Não fora a televisão e aí estaria mais um génio esquecido...

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    1. Creio que o tradutor, que refere, começou a sua actividade já em finais do século XX. Eu referia-me, sobretudo, às traduções que fui lendo de Pasternak, Dostoievski, Gogol, Tolstoi e tantos outros, que foram aparecendo por cá (Bertrand, Livros de Brasil, Portugália...) nos anos 50, 60 e 70.

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