Esguio, muito seco de carnes, pele muito branca, o que nele mais surpreendia era o aperto de mão musculado e forte vindo de uma tão aparente fragilidade corporal.
Naquela vilória desengraçada e repetida, encontrá-lo era um oásis de frescura, no meio das minhas deambulações profissionais desinteressantes. E o prólogo apetecido de dez dedos de conversa estimulante. Bancário reformado, viúvo, pertencera à tertúlia lisboeta de José Marinho, era um ledor compulsivo e os seus diálogos tinham quase sempre um pendor filosofante.
Ele no início dos seus 80, eu a entrar nos sessenta, apesar da diferença de idades, fizémo-nos amigos leais, porque nos entendíamos facilmente. Trocámos muitas ideias e livros, mas há mais de 5 anos que o não vejo. O mais provável é já ter falecido, seguindo talvez o seu amigo Luís Amaro que lhe morava perto e de quem me falava muitas vezes.
O que eu não posso esquecer é que referindo-lhe eu, esmorecido, as leituras de Cícero (De Senectute) e Simone de Beauvoir (La Vieillesse), nos preparatórios para a velhice, J. Braga me tivesse oferecido, alguns dias depois, os Comentarios sobre la Vejez..., de Blanco Soler. Que foi, até hoje, o melhor livro que li sobre o assunto. E que conservo, religiosamente.
E já que falei de coisas santas, e a ele, que era crente, lhe desejo daqui a tranquilidade filosofante, lá, no assento etéreo, para onde provavelmente subiu.
E já que falei de coisas santas, e a ele, que era crente, lhe desejo daqui a tranquilidade filosofante, lá, no assento etéreo, para onde provavelmente subiu.
E o livro estará disponível nas livrarias? Fiquei curiosa. Embora eu julgue que melhor que ler é experimentá-la, a tal dita velhice. É que se compreende tudo muito melhor. O que ainda não descobri é se a compreensão adianta alguma coisa. Há que ter esperança:).
ResponderEliminarO livro é de 1953. Se lhe interessa - coisa que não consegui perceber do seu arrazoado - terá de o procurar...
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