quarta-feira, 10 de julho de 2019

Divagações 150


Tenho para mim, embora conceda que de forma excessivamente simplista, que o progresso, numa família portuguesa, se pode medir pelos níveis de educação atingidos ao longo das gerações. Um esquema simples poderá ajudar a perceber melhor esta minha ideia, exemplificada por 3 gerações. Assim:

1. Avô - trabalhador rural, assalariado: analfabeto ou com instrução primária.
2. Pai - empregado por conta de outrém, pequeno empresário : curso dos liceus ou comercial e industrial.
3. Filho - profissão liberal, professor, industrial...: curso médio ou superior universitário.

Este elevador social - como hoje se costuma dizer - permitiria uma progressão social e cultural dos cidadãos. Bem como do seu bem estar económico e da sua própria liberdade.
Dito isto, resta-me acrescentar que não sou inteiramente inclusivo e que concordo com o número clausus, a nível universitário. Por isso também não estou de acordo com o título generalizante do artigo de Rui Tavares, que aparece, hoje, na última página do jornal Público.
A meritocracia é para mim um ponto essencial para aceder aos últimos graus de instrução. Mas acrescento que, a exemplo do mundo anglo-saxónico, respeito por igual o profissionalismo e competência de um bom electricista, como a qualidade de um catedrático competente.

8 comentários:

  1. Bem observado. E por este andar qualquer canalizador, dada a escassez, vai ganhar mais que um bancário. Digo isto sem tom pejorativo. É o mercado a funcionar. Por isso entendo que se devia dar muita atenção e mais prestígio aos cursos técnico-profissionais.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não duvido que um bom e competente canalizador, hoje em dia e em Portugal, pode ganhar mais que um professor, em início de carreira. Merecidamente, aliás.

      Eliminar
  2. Concordo com o numero Clausus, julgo que a universidade não é para todos e nem todos querem ou sequer têm capacidade para o que exige e são outras as suas aspirações. Mas como não li o artigo de Rui Tavares vou supor que o que ele disse foi que não pode ser vedada a quem não tem meios para a frequentar, mas àqueles que citei atrás. Ou seja, há que garantir a meritocracia elidindo a classe social ou a bolsa de cada um. Esta seria a universidade que eu gostaria de ter.
    Nada tenho contra os cursos técnicos, mas ainda tem de nascer um governo que os dignifique.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há realmente muitas formas de progresso (familiar) que não passam pela universidade. Creio que o anátema que se instalou sobre os cursos técnicos já vem de longe. Mudá-lo não passa pelos governos, na minha perspectiva, mas por uma mudança de paradigma na mentalidade das pessoas.

      Eliminar
  3. Também sou a favor do numerus clausus, embora este já tenha permitido a entrada de estudantes com notas abaixo de dez na Universidade e possivelmente também em cursos médios.
    A doutorice é um problema na mentalidade dos portugueses. Se não houvesse essa arrogância de olhar para o seu semelhante de acordo com as habilitações literárias que cada um tem, e se todos fossem tratados por Sr. e Sra. estaríamos bem melhor.
    Há (ou houve) muitos licenciados (e até mestres ou doutorados) em caixas de supermercado (e noutros trabalhos para os quais tinham habilitações a mais), o que lhes causa alguma desolação ou mesmo revolta.
    Por outro lado, o sistema de remunerações também devia ser revisto, porque costuma-se pagar mais consoante as habilitações são mais altas. Logo, as pessoas tendem a tirar cursos superiores apenas para melhorarem os seus ordenados.
    Devia-se investir muito mais no ensino médio: canalizador, eletricista, sapateiro, mas também em trabalhos relacionados com a agricultura. Ainda hoje ouvi que temos uma grande falta de mão-de-obra qualificada na agricultura.
    Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A metáfora, em França, do canalizador polaco, bem podia servir de alerta em relação à desproporção generosíssima com que se proclama "a universidade para todos", da parte dos politicamente correctos e de alguma esquerda-caviar irrealista - "de boas intenções está o inferno cheio". Depois, é o desemprego ou a desadequação de tarefas em relação às habilitações, como a MR refere. Porque o emprego, no futuro, será cada vez mais escasso, segundo as previsões.
      A felicidade e o progresso (familiar) pode bem passar por outros caminhos, que não apenas as universidades.
      Votos de um bom dia.

      Eliminar
  4. Sempre fui de opinião que tem que haver uma selecção, após uma escolaridade obrigatória. E bolsas de estudo para bons alunos que queiram seguir, mas não têm posses. Assim como cursos profissionais. Mas acima de tudo, todas as pessoas deviam ser pagas o suficiente para terem uma vida digna, onde possam ter uma casa, cuidar dos filhos e ter o necessário para viver bem. Não é profissão que conta, mas a educação das pessoas. Há pessoas com cursos superiores e muito dinheiro, mas que são uns labregos no trato com os outros e o contrário também acontece. Gente simples, mas tão educada - não submissa - educada! Conheço de ambos!

    Seria possível fazer isso.

    Boa tarde:))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo com a maior parte das suas afirmações.
      O enriquecimento cultural, o salário justo e o respeito pelos outros são alguns dos caminhos essenciais para o equilíbrio e dignidade humanos. E uma forma de felicidade.
      Uma boa noite.

      Eliminar