domingo, 7 de julho de 2019

Prémios literários


Raramente a atribuição de prémios é consensual, muito especialmente, os galardões literários. Mas também as recusas despertam polémica - estou a lembrar-me de Jean-Paul Sartre e Herberto Helder, por exemplo, que devem estar na memória de muita gente.
A imagem que encima este poste reproduz, parcialmente, a carta enviada a Marcel Proust (1871-1922), a comunicar-lhe a atribuição do Prémio Goncourt, em 10 de Dezembro de 1919, pela sua obra À l'ombre des jeunes filles en fleurs. Ora, este prémio foi dos que mais polémica causou.
O concorrente mais chegado de Proust, ao Prémio Goncourt, era Roland Dorgelès (Les croix de bois) que estivera nas trincheiras, e estava-se no rescaldo da I Grande Guerra, em que Proust não tomara parte. Este, obtivera 6 votos, enquanto Dorgelès só conseguira 4, do júri Goncourt.
Mas Proust foi muito atacado, sobretudo na imprensa e no Bulletin de l'Association générale des mutilés de la guerre. Chamaram-lhe snob e burguês. Em La Revue de Paris, a propósito da extensão do livro, Fernand Vandérem falou de "éléphantiforme". Um jornal referiu: "Proustitution"...
Hoje, a obra de Marcel Proust, no entanto, é consensual e ele pode continuar a dormir descansado.

2 comentários:

  1. Julgo ser precisa muita coragem para declinar prémios tão importantes. O ego gosta e precisa ser afagado de quando em vez e o reconhecimento dos outros, por mais que se fale e revire, também passa pelos prémios que se recebem. Além de fazer disparar as vendas e dá visibilidade a quem o recebe.E o prémio geralmente envolve ele mesmo uma oferta pecuniária. Mas existe gente de antes quebrar que torcer e que não se verga politicamente. São pessoas, nesse âmbito, admiráveis.
    Proust está hoje amplamente descansado:). O outro autor não li.

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