segunda-feira, 15 de julho de 2019

Desencontros


A menina da caixa do pequeno supermercado citadino, loura por adopção e bem tratada, embora um tanto ou quanto perliquitetes, após passar o terceiro artigo pelo visor da caixa, perguntou-me:
- É só, meu amigo?
Era ainda manhã cedo e eu não estava predisposto para tanto afecto. Retorqui-lhe:
- Mas eu não a conheço de lado nenhum: é a primeira vez que a vejo. Um amigo demora anos a fazer!...
E ao recolher o troco, ainda acrescentei:
- Tem que ser mais rigorosa com a língua.
Mas não deixei de ficar com o resto da manhã estragada.
Embora ela me tivesse pedido desculpa.

2 comentários:

  1. Ah!Ah!Ah! Compreendo-o!
    Não fico com o dia estragado, mas detesto que me tratem por "minha querida", ou nomezinhos assim, nas lojas. Assim como detesto as simpatias excessivas, que se vê que são falsas. Detesto tanto isso, como as pessoas antipáticas. No atendimento ao público, acho que deve haver uma simpatia educada, sem exageros. O resto é desnecessário.

    Boa tarde:))

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    1. Prezo demasiado a noção de "amigo" para a não deixar abastardar nestes coloquialismos baratos e comerciais. Por comodismo, laxismo e talvez cobardia, há muita gente que se deixa tratar assim, e não reage.
      Concordo com os exemplos que refere, mas também não gosto de servilismos no atendimento (lojas, restaurantes...) que são, no fundo, uma forma de hipocrisia comercial.
      Um bom fim de tarde.

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