Passei por lá, ontem. Quase diria, em romagem de saudade. Foi na ribeira do Jamor que vi as primeiras galinhas de água. E, se não fosse um velho explicá-las ao neto, nem hoje saberia dizer o nome daqueles pássaros pernilongos. Viam-se, pela ribeira, pequenos patos que subiam do Palácio de Queluz, melros, pintassilgos e pequenos pardais. Ouviam-se rãs a coaxar, no Verão, cigarras e grilos musicavam o ar. E havia uma figueira, antiquíssima, que a crassa ignorância e desapego da freguesia de Queluz ou da Câmara de Sintra mandou arrancar. Dava uma sombra benfazeja, nos dias de calor, para quem atravessasse a pequena ponte quase artesanal que nos levava ao outro lado. E figos, bem saborosos - que ainda comi dois ou três...
Ontem, a ribeira do Jamor ia transparente e límpida. Normalmente, quando lá passava, na ponte, as margens estavam juncadas de lixo e detritos. A atenção ao ambiente já morreu há muito e as criancinhas também aprenderam pouco, nas escolas portuguesas, de agora... Como eu dizia, a ribeira ia clara e limpa em direcção ao Palácio. Na sua placidez inofensiva e bucólica, esquecemos que esta ribeira do Jamor, aquando das chuvas do Inverno, também pode ser assassina. Matou nos anos 60, voltou a matar em Fevereiro de 2008 : duas jovens que iam, de Belas, para o seu trabalho, logo pela manhãzinha. Quem a visse, ontem, à ribeira do Jamor, cantarolando entre os seixos lavados e os limos verdes, não acreditaria.
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