quarta-feira, 30 de junho de 2010

Álvaro de Campos lido por E. M. Cioran


A 19 de Janeiro de 1970, E. M. Cioran (1911-1995) anotou, no seu diário ("Cahiers / 1957-1972"), o seguinte:
"Abro as «Poesies» d'Alvaro de Campos (Pessoa), e dou por
«Seja o que for, era melhor naoter(sic) nascido.»
Seja como for, melhor fora não ter nascido.
É um erro acreditar que há uma relação directa entre o sentimento de infelicidade e a questão do nascimento. A incriminação feita ao nascimento tem raízes profundas: e ela terá lugar, mesmo quando não houver ressentimento contra a existência. É que o fenómeno de nascer encarado em si mesmo é tão ofensivo para a razão, tão pesado de consequências e tão estranho em si, e fora de outras considerações, que é mais fácil aceitá-lo como uma anomalia do que como uma evidência. Eu não regresso a ter nascido. Além disso que outrém também tenha nascido, não me provoca nenhuma admiração. Todos os «nascidos» me perturbam."

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