Conheci Eugénio de Andrade tinha ele pouco mais de 40 anos. Mas mantivera uma generosidade quase juvenil. Era bem disposto, simples, gostava de se ouvir a ler os poemas de outros poetas, e os seus. A amargura viria depois. A partir de "Obscuro Domínio" onde o "chiaroscuro" já predominava. E alguma impaciência, para com a estupidez e cegueira dos outros, que a velhice, na sua usura do tempo, traz consigo. Prefiro acompanhá-lo, de memória, a descer umas ruelas tortuosas do Porto, depois da rua Duque de Palmela, 111, em direcção ao Majestic - que me deu a conhecer - para tomar um café, antes de eu voltar a Guimarães. Ou revê-lo no Café Canas, depois de ter visitado Joel Serrão e antes de seguir para a Travessa das Mónicas, em direcção à casa de Sophia. Conforta-me a certeza que será, sem dúvida, um dos cinco poetas portugueses do séc. XX, que sobreviverá à poeira do Tempo.
Não se deve esquecer, porém, que para lá da sua alta poesia, escrevia também numa prosa luminosa, mediterrânica e clássica. Não serão muitos os seus textos em prosa. E, talvez, alguns nem sequer tenham sido reeditados. Como este, sobre Carlos Carneiro, que aqui fica. O texto de Eugénio de Andrade é de 1967, a propósito de uma exposição que o Pintor fez em Lisboa, decorria Novembro.
Quando hoje vi no DN uma grande reportagem sobre os cinco anos da morte de Álvaro Cunhal, lembrei-me de Eugénio de Andrade. E também me lembrei que estava em Moscovo há cinco anos, de férias.
ResponderEliminarBonita escolha - texto e desenho.
Obrigado, MR,pelas suas palavras.
ResponderEliminarE seja bem-vinda!
Conheço mal Eugénio de Andrade, mesmo muito mal.
ResponderEliminarSimplicidade, juventude, fidelidade. Vou reter.
ResponderEliminarBelíssima e original homenagem. É preciso conhecer bem o todo para conseguir desencantar esta verdadeira pérola. Idem para o vídeo do post mais acima. Obrigado, APS.
Mas penso que vale a pena lê-lo, JAD,sobretudo pela alegria luminosa dos primeiros livros, até ao "Obscuro Domínio";os restantes serão mais nocturnos, mas continua a ser alta poesia, com as tais 2 leituras - a de superfície, e a de segunda "camada", mais densa e profunda.
ResponderEliminarObrigado, c. a.,fico contente que tenha gostado.
ResponderEliminarE, seguindo esse conselho do Eugénio sobre partilha: "...das coisas que te dou/ para que tu as ames comigo." - é o que tento fazer.