sábado, 12 de junho de 2010

A ressaca de Pessoa



Amanhã completar-se-ão 122 anos sobre o nascimento de Fernando Pessoa (1888-1935) que, parei de reler, quando o começaram de novo a "matar por entusiasmo" os estudiosos, as escolas, os políticos... Sobrou-me Ricardo Reis e, mais recentemente, li, pela primeira vez as "Novas Poesias Inéditas", da Ática, em Julho de 2009.
Por outro lado constato que a estátua mais fotografada de Portugal é, com toda a certeza, a de Lagoa Henriques, no Chiado, onde portugueses e estrangeiros não resistem a sentar-se ao lado de Pessoa, para tirar o retrato. Mas também penso que, muito provavelmente, a esmagadora maioria dos retratados não faz a mínima ideia de quem foi o Poeta - "sic transit..."
Este Gémeos /Escorpião dispensaria, certamente, estas familiaridades, mas nada pode fazer, ali sentado em bronze, à frente da "Brasileira". Vou lembrá-lo através de um dos poemas, que mais gosto, do heterónimo que mais aprecio: Ricardo Reis.

Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.

5 comentários:

  1. Não me lembro deste poema; se calhar nunca o li. E gostei.
    As minhas preferências vão para Álvaro de Campos e para Bernardo Soares.

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  2. Mas temos de concordar, MR, que é um poema enorme...

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  3. É um poema enorme, que também não conhecia. Obrigado, APS.
    Conheço muito mal a obra de Pessoa e a circunstância de o ver citado, às vezes a esmo, sem critério, não me ajuda. O Ricardo Reis é o heterónimo mais «provocador», não é?
    O poema é muito belo, mas creio que as permissas do raciocínio estão erradas. A liberdade não se mede pela ausência de afectos, mas sim pela possibilidade de escolha. Pelo menos é assim que a vejo...

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  4. Para c. a.:
    o mais "provocador" e estridente, para mim, é o Álvaro de Campos; Alberto Caeiro é o "sonso" naif de serviço. Ricardo Reis, o clássico - mas isto, que acabei de escrever, é altamente subjectivo...
    Sobre as premissas de raciocínio, eu estou de acordo com elas. Mas seria difícil explicar, apenas num comentário, a ideia de base.
    No entanto, o facto de se concordar com uma "doutrina" não obriga a que se pratique.

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  5. Claro que gostei do poema e do conteúdo.

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