"...Akhamatova, assim como Gogol, não gostava de ter nada. Tudo o que lhe davam, presentes, etc., ela distribuía-o à direita e à esquerda. Até descobriram um xaile, que lhe tinham oferecido, em casa de alguém, muito poucos dias depois de lho terem dado.
Aprecio imenso este traço da personalidade que lembra os costumes dos nómadas, que não podem nem querem nada para armazenar e guardar. Tudo neles é provisório por necessidade e filosofia. J. de Maistre fala, não sei onde, de um príncipe russo que dormia em qualquer sala ou quarto do seu palácio, e que não possuía, por isso, um leito fixo, porque ele tinha o sentimento de estar de passagem.
Todas estas pessoas tinham a sensação de terem entrado na vida como uma rajada de vento. ..."
E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers / 1957-1972 (pg. 684).
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