Por palavras de Jerónimo Osório (1506-1580), que foi bispo de Silves, na sua Da vida e feitos de D. Manuel, traduzidas, do latim, por Francisco Manuel do Nascimento, teria sido assim:
"...Este ano ia já no fim, quando el-rei D. Manuel mandou ao papa Leão X três embaixadores: Tristão da Cunha, que era o principal, e Diogo Pacheco e João Faria, dois jurisconsultos muito autorizados em Portugal, por assessores, com um presente digno da sua magnificência real, que constava de sagradas vestimentas, lavradas de obra mui prima com muito ouro, muita pérola e pedraria, muita baixela também de ouro, e muitas jóias custosíssimas pelo peso e pelo valor; (...)
Fizeram êstes embaixadores finalmente sua entrada em Roma no dia 12 de Março de 1514, pela ordem seguinte: precediam os criados vestidos muito ao bizarro; seguia-se a onça nas ancas do cavalo pérseo, em que ia montado o persa caçador, depois o elefante com o seu cornaca; pequeno espaço de trás, no cavalo que já dissemos, Nicolau de Faria cerrava a primeira chusma. (...)
Tremia Roma inteira com o estampido da artilharia, quando apareceram ante o castelo Santo-Ângelo. Destecida a escuridão do fumo, chegou o elefante perto da janela donde o pontífice estava olhando; e, debruçando o corpo todo até afincar os joelhos, com todo o acatamento o saüdou assim três vezes, o que foi causa de muita maravilha para os que isto presenciaram. Mergulhando depois a tromba num grande tonel de água, borrifou quantos estavam pelas mais altas janelas; e daí voltando para a plebe, como por divertimento, copiosamente a orvalhou. ..."
Acrescente-se que Garcia de Resende ia por secretário desta embaixada ao Papa, que demorou uma semana (20 de Março de 1514) até receber os dignatários portugueses, no palácio pontifício. O elefante, a quem deram o nome de Hanno, sobreviveu em Roma, mais dois anos, mas morreu novo: com 6 para 7 anos de vida.
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