quarta-feira, 19 de março de 2014

Mercearias Finas 84


Eu já ia muito em cima da hora, para me dar ao luxo de passar pela ribeira - como costumo fazer - e onde há, quase sempre, aves inesperadas, para além dos quotidianos pardais ou dos patos, que vêm do Palácio, subindo as águas e debicando os limos das margens.
O restaurante, dantes tão ocupado, tinha apenas duas mesas com três clientes espaçados e, por isso, escolhemos lugar à vontade. Convidado, que era, escolhi, na mediania de preço, as pescadinhas fritas (de rabo na boca) com arroz de tomate, que sempre foram uma boa opção, por lá. O branco do Cartaxo, da quinta do sr. Abílio, na sua ligeira acidez citrina, combinou bem.
Mas não resisti a perguntar ao Fernando, se o ciclóstomo de água doce (anunciado, com destaque, na ementa) era à bordaleza ou com arroz de cabidela, malandrinho. "É como quiser!" - respondeu-me ele. Mas a escolha estava feita embora, se fosse eu a pagar, a lampreia tivesse sido a eleita, que já no ano passado me privara dela, ao passar no "Solar dos Presuntos", às Portas de Sto. Antão. E já tinha saudades...
Mas o Fernando é um empregado gentil, que me estima. A meio das pescadinhas, trouxe-me um pratinho dela, com uma posta generosa, em arroz de cabidela. "Gostava que me desse a sua opinião, porque fui eu que a preparei." - acrescentou. Estava óptima, no seu leve avinagrado tintoso, a saber a rio. Que não ribeira...
E foi assim que fiz a minha vernissage, este ano.

4 comentários:

  1. O meu pai, que era empregado de mesa, gostava muito de lampreia e sabia cozinhá-la muito bem. Fez-me lembrá-lo.
    (Eu não gosto de lampreia)

    Boa tarde!

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    Respostas
    1. A lampreia provoca sentimentos extremos: ou se gosta muito, ou se detesta, talvez por parecer uma enguia gigante, de que muita gente não gosta.
      E ainda bem, Isabel, que o poste lhe trouxe boas recordações...
      Boa tarde!

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  2. Gosto muito do arroz, mas do ciclóstomo nem vê-lo. :-)

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