quarta-feira, 17 de abril de 2019

Do que fui lendo por aí... 26


Li ontem uma boa parte da correspondência diplomática de Almeida Garrett (1799-1854), enquanto representante português em Bruxelas. As cartas lêem-se quase como um romance desesperado, à espera de uma solução airosa, que tarda, sobre o pagamento de salários do nosso cônsul na Bélgica. De 5/8/1834, pelo menos, até 30/9/1835, o nosso homem em Bruxelas implora e reclama o que lhe é devido. Como ele sobreviveu todo esse tempo, não nos é dito. Para além de se endividar, continuadamente. E até o pão adquirir fiado...
O silêncio olímpico da nossa secretaria de Estrangeiros, em Lisboa, provoca, no leitor, perplexidade e revolta, pelo injusto da situação. Por outro lado, a não resolução de algumas questões administrativas e burocráticas, por parte da tutela, aos pedidos de autorização de Garrett, acrescentam e denunciam, de forma flagrante, o laxismo e a indiferença dos burocratas das Necessidades, nessa época.
A minha experiência de salários em atraso é única e curta. Ocorreu apenas uma vez. Data de 1976, quando o meu ordenado se vencia a 29 do mês e só veio a ser pago no dia 5 do mês seguinte. A angústia dessa semana de incerteza ficou para sempre marcada na minha memória profissional...

2 comentários:

  1. Desconhecia essa história e é miserável. Bom dia!

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    1. Para evitar alongar muito o poste, evitei referir mais uma série de iniquidades de que Garrett foi vítima... A correspondência não é nada agradável de ler, por esses motivos. Mas é muito elucidativa para esboçar o perfil da administração pública portuguesa da época.
      Bom dia.

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