quarta-feira, 7 de maio de 2014

Castas


Famílias há, em que as vocações se perpetuam, um pouco por devoção atávica, conveniência ou por hábito acomodatício. Até, quem sabe, por adaptação genética, inexplicável. Assim acontece, por exemplo, na sucessão de escritórios de advogados, consultórios médicos em que as gerações se eternizam, como que num determinismo inexorável e previsto. O mesmo acontece com muitas famílias políticas: Kennedy, Papandreou, Gandhi (Nehru), Soares... Apesar de tudo, nestas dinastias, referidas atrás, haverá sempre algum risco possível ou, nalguns casos, a ousadia e ambição de ir mais longe do que os antecessores - embora nem sempre bem sucedidas, nem isentas de algum perigo de carreira.
Mas dei-me conta, ao longo da leitura de um livro do embaixador Marcello Duarte Mathias (Diário da Índia - 1993-1997), como a casta de diplomatas - que quase nada arrisca - ao longo de gerações tem, quase sempre, o futuro assegurado, colhendo, por educação, mimetismo e contactos privilegiados, os lugares que os seus antecessores também tiveram, no passado, sem dificuldades de maior. Bastará, apenas, prudência, gradual adaptação a novos regimes políticos, camaleonismo e alguma inteligência no saber viver, em altas esferas.
E é curioso como o único embaixador, que sai "fora do baralho", porque não pertencendo, por família, à casta dos intocáveis, de nome Fernando de Castro Brandão - que, por acaso, eu conheci, ainda jovem universitário - é, também, o único que é beliscado, diplomaticamente, por M. Mathias, como sendo "trocista e truculento" (pg. 300).
Creio que está tudo dito...

2 comentários:

  1. Há um livro de Coimbra Martins, que foi embaixador de Portugal em França, que analisa com algum humor essa 'casta' que sai de rastos. Acho que o livro se intitula Esperanças de Abril.

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