quarta-feira, 14 de maio de 2014

A oficina de G. Simenon


Por curiosa coincidência reli, há dias, o mais divertido - na minha perspectiva, e que eu conheça - dos romans durs de Simenon: La maison des sept jeunes filles. E, hoje, inteirei-me, no TLS, de um bem elaborado artigo de Julian Barnes (1946), que saúda a reedição (à média de um por mês), pela Penguin, de uma boa parte da obra do escritor belga, em tradução inglesa, efectuada por profissionais qualificados que dão, à partida, uma garantia de qualidade e rigor às versões em causa.
A recensão de Barnes (Maigretland), às primeiras seis obras já editadas, dá algumas pistas e fornece algumas informações que eu não tinha. E que vou alinhar, de seguida:
- Simenon não apreciava literatura (no seu sentido restrito) e tinha grande dificuldade, por enfado, em ler, por exemplo, Gide, escritor que o admirava muito, bem como à sua obra. E de quem era amigo.
- Apesar disso, Simenon desejava muito ter o prémio Nobel. Chegou a escrever: "...em 1947, ganho o Nobel!" Para sua decepção e contrariedade, quem o ganhou nesse ano foi André Gide.
- O criador de Maigret preocupava-se em utilizar, nas suas obras, um vocabulário banal e restrito (pouco mais de 2.000 palavras diferentes), de forma a que o seu leitor médio não necessitasse de ir ao dicionário, ao ler os seus livros. Evitava também as metáforas e os efeitos retóricos.
- Georges Simenon procurava fugir a emitir juízos morais em relação às personagens das suas obras. Fazia questão de não escrever romances muito grandes. Além disso, são raríssimas as alusões à política do seu tempo. Ou mesmo à II Grande Guerra.

2 comentários:

  1. Muito ingénuo se algum dia acreditou que podia ganhar o Nobel. :-)
    Talvez o sucesso dos romances de Simenon e da figura de Maigret esteja nas características fornecidas por Barnes.
    Não imaginava que ele não apreciasse Gide.

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    1. Concordo, também, que só por ingenuidade...
      A análise de Barnes, entre o fundamentado e o deduzido, é realmente muito certeira.

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