quinta-feira, 12 de abril de 2012

Divagações 23


Há em quase todos os retratos de Virginia Woolf uma melancolia indefinida, algo aérea, esvoaçante no olhar, até mesmo no retrato que lhe fez a irmã. E onde o rosto está em branco e sem traços, num tempo sem tempo.
Ontem, como hoje, foi primeiro o pio lúgubre das gaivotas que o sol, de tão raro, não dava para iluminar a manhã. Terreno, juntou-se-lhes, um ladrar furioso de cães, ao longe, assimétrico e áspero.
No canteiro maninho, à beira da estrada, já os cardos secaram, assim como as flores brancas. Despontam ainda as amarelas. E outras, de cor lilás, a que eu gosto, impropriamente, de chamar violetas selvagens, de que vejo três ou quatro tufos bem densos, mas suaves.
As andorinhas, escassas, pequenas e jovens, não se decidem pela altura do voo. Altas, seria anúncio de bom tempo; se voassem baixo, viria a chuva. Mas elas obstinam-se em voar por cima das vivendas, numa altura intermédia e inexacta, deixando em aberto qualquer futuro.
E o sol também não se define, nem abre.

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