sexta-feira, 20 de abril de 2012

Monografias e tipos populares



Sou grande apreciador de monografias, porque são a pequena história anónima - sem preocupações da grande História - do tecido simples das cidades de província, de pequenas vilas, de ignotos lugarejos que também constituem a rede real do país. São escritas de afecto e emoção, enquanto a História, para o ser, terá de ser feita de rigor e de razão. A monografia é mais picaresca e, muitas vezes, mais saborosa.
Por isso não resisti à compra deste livrinho despretencioso, intitulado "Os Senhores da Rua". Diferentes dos actuais Sem-abrigo, estas figuras populares exerciam sempre alguma actividade útil, embora esporádica, mal remunerada: faziam recados pequenos, serviam de testemunhas em registos notariais, carregavam mercadorias, ajudavam à missa, eram sineiros, engraxadores, eu sei lá!... E eram vencidos, normalmente, pelo álcool.
Conheci muitos deles, na minha infância e adolescência, como o "Pereirinha" franzino e de nariz adunco, que vai na imagem; ou o "Cinéfilo", que não consta deste livro, que recolhia, pelas ruas de Guimarães, pequenas notícias de aniversários, baptizados e mortes que, depois, levava para os jornais.
Tinham muitas vezes nomes depreciativos, como o "Malotinha" (que tinha corcunda), o "Rei da Grécia", por ser monárquico e andar sempre a gritar: "Viva o rei!". Ou alcunhas fesceninas como o "João Aperta a Mama" e o "Cu de Veludo". Mas também, o "Neca das Meiguices", o "Guli-Tampila" ou o "Xiramaneco". Uma pequena galeria de seres humanos, pouco felizes, mas que, ainda hoje fazem a história pequena das cidades. 

3 comentários:

  1. Sou um incontinente, neste particular..:-)))
    Bom dia, MR!
    (Embora com chuviscos e abertas, por Guimarães)

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