Não é sequer dos meus escritores policiais preferidos, mas o inglês Nicolas Freeling (1927-2003) rodeava de ingredientes muito interessantes as obras que tinham o inspector holandês Van der Valk como protagonista central. Falava dos costumes, de gastronomia, do ambiente paisagístico holandês, com à vontade e propriedade. Talvez porque, apesar de britânico, vivera na Holanda, casara com uma holandesa e tinha uma avó dessa mesma naturalidade, com o apelido Vierling.
O livro (em imagem) que acabei, ontem, de ler, "Na pista do crime" (Sand Castles, 1989), foi o último que Freeling escreveu da série de Van der Valk que foi adaptada pela BBC, em televisão. Comprei-o numa abada de Vampiros, que adquiri, usados, no Montijo, algumas semanas atrás, por 1 euro cada. São várias, nesta obra acima referida, as referências aos holandeses, e bem curiosas. Por isso, vou proceder a algumas transcrições:
" Os holandeses são democratas: quando tratam alguém por Meneer estão a ser sarcásticos. Como por exemplo: «Meneer, não se importava, por favor, de retirar a ponta da sua bengala de caça de cima do meu dedo do pé?" (pg. 8)
" O quarto de casal dava para o mar. Tal como todos os quartos holandeses era mal ventilado e sobreaquecido." (pg. 14)
" Os holandeses não são dotados para as artes culinárias. Falta-lhes o instinto que os belgas tão bem possuem (quando se deixam persuadir a cozinhar os seus pratos típicos). (pg. 15)
" Primeiro, a paixão dos holandeses pela luz eléctrica; as ruas podiam não estar mais iluminadas do que uma aldeia remota do Texas, mas no interior de uma sala de estar de doze metros quadrados, era vulgar encontrarem-se dez lâmpadas acesas." (pg. 17)
para a Sandra, no seu "Presépio com Vista para o Canal", que, com propriedade e conhecimento de causa, poderá apoiar ou refutar estas insinuações..:-)
Estou com curiosidade sobre o que dirá a Sandra... Bom dia!
ResponderEliminarTambém estou curioso sobre o veredicto..:-)
EliminarBoa semana!
Não me lembro de ter lido Freeling, mas não sei.
ResponderEliminarPor acaso comi mal na Holanda, mas devo ter escolhido mal porque pelo Presépio com Vista para o Canal até fico com outra ideia da cozinha holandesa. Ou se calhar são cozinhas estrangeiras.
Bom dia!
Só lá comi 2 ou 3 vezes, mas dá para concordar com o Freeling... E sou fã da gastronomia belga - também aí estou com ele.
EliminarBom dia!
:-)))
ResponderEliminarVamos começar pela culinária, que é a mais fácil...;-))
Diria que não é rica e variada como a portuguesa (fica a léguas de distância) e os pratos são muito simples. Muito croquete, omelete, batatas fritas, pão,...
Os chocolates foram uma grande surpresa. São muito bons, há marcas óptimas e que já partilhei no blogue (Van der Burgh, Chocolate Company, Stach, etc).
Há sim muita variedade de restaurantes internacionais (coreanos, indonésios, vietnamitas, persas, argentinos, japoneses, italianos...).
A questão dos quartos...
Mal ventilados, não me parece. Vejo com frequência muitas janelas abertas (eu própria faço isso). Mas são mais estreitos e pequenos (embora, nas casas mais recentes, já se notem melhorias em termos de espaço). Sobreaquecidos? Não acho. As casas geralmente estão a uma temperatura primaveril, à volta dos 22 (aquecimento central da cidade).
A luz eléctrica...Bom, nunca notei falta de candeeiros nas ruas e sempre em bom estado, mas diria que a loucura deles é mais pelas velas, sobretudo no Inverno. Adoram decorar as casas com velas. Criam um ambiente mais acolhedor, gezellig, como eles dizem...
Achei muita piada à 1a frase. Faz sentido se pensarmos que aqui ninguém se trata por Doutor e Engenheiro (há um grande sentimento de igualdade e eles não gostam de ostentação; só os médicos são tratados por Dr's).
Bom dia! Gostei do desafio!
:-))
Ainda bem que gostou destas insinuações desafiantes.
EliminarAinda em relação à gastronomia, eu creio que a diferença maior entre a Bélgica e Holanda, foi a influência maior da Espanha, no primeiro dos 2 países. Até pela religião. Dizem que foram os belgas que "inventaram" as batatas fritas e eu até acredito, porque nas 2 ou 3 vezes que comi na Holanda, foi sempre com acompanhamento de batata cozida..:-(
Quanto ao resto, suponho que 27 anos (o livro foi editado em 1989), obrigatoriamente, mudaram, decerto, algumas coisas.
Aprovo inteiramente, a exemplo da Inglaterra, a inexistência dos drs. e engs. no tratamento coloquial. Portugal, nesse aspecto, é de um anacronismo terceiro-mundista. Que até usa ainda, muitas vezes, o Vexa. ..:-)))
Freeling, apesar de tudo, pareceu-me mais benévolo que o nosso Rentes de Carvalho, no seu livro "Com os Holandeses".
Votos de uma boa semana!
Tenho o livro do Rentes de Carvalho, mas ainda não li a preceito. A ver se tento novamente.
ResponderEliminarPartilho do mesmo ponto de vista em relação à Bélgica (quando refere a influência espanhola e o Catolicismo). No Limburgo holandês (próximo da Bélgica e Católico) notarmos logo essa diferença na gastronomia.
Há também um prato que foi criado em Leiden, inspirado no Cerco da cidade pelos espanhóis e que gostámos imenso. Ando para falar disso desde Fevereiro (tenho de ver se encontro a fotografia).
Boa semana! :-)
Rentes de Carvalho acaba por ser ambíguo: passa a primeira parte do livro a dizer mal dos holandeses; na segunda parte, e até final, quase só lhes faz elogios...
EliminarPela minha dama!, e em tempo, a Bélgica também têm marcas de chocolate muito boas: Leonidas, Godiva(?)...
Mesmo a Bélgica, apesar de pequena, também se divide: a Valónia da Flandres, fazem diferença. Penso é que são mais criativos e gulosos de experiências, como bons católicos..:-) em oposição ao sacrificado calvinista holandês.
Resto bom de tarde!
Pois, policiais na Holanda, que tal citar "Un crime en Hollande", de Simenon? As primeiras impressões de Maigret são muito positivas: a vila que parece um brinquedo, mais nórdica do que estava à espera; e as pessoas:
ResponderEliminar"Assez loin, un grand toit de tuiles vernies.
— Liewens !... Dag, mijnheer !...
Et Maigret continua son chemin tout seul, non sans avoir essayé de remercier cet homme qui, sans le connaître, avait marché près d’un quart d’heure pour lui rendre service".
E, ali, Maigret come "hutspot" (carne cozida, misturada num puré de legumes)!
Boa lembrança, a do Simenon! E transcrição a propósito.
EliminarO próprio Freeling cita-o, duas ou três vezes, neste livro que li. Fala até da estátua de Simenon, na terra (da Holanda) em que ele escreveu o primeiro Maigret.
A estátuaestá, precisamente, em Delfzijl, onde se passa esta novela, uma das primeiras de Maigret (1931).
EliminarSaudades de ler as histórias do inspector Van der Valk!
ResponderEliminarJulgo que grande parte dos policiais de Van der Valk se encontram traduzidos na Vampiro. Deixo-lhe alguns números, para referência: 229, 289, 477, 506, 526, 578, 619...
EliminarBom Domingo!
Muito obrigada! Um bom Domingo também.
EliminarFoi um gosto..:-)
Eliminar