domingo, 26 de junho de 2016

Desabafo (13)


Vai sendo sistemático, repetitivo, corriqueiro, banal. Os jornalistas ouvem os vizinhos e amigos do assassino ou do autor do massacre, e estes dizem: "Ele até era educado, discreto, sossegado... Nada fazia prever isto!" Os jornalistas ouvem os pais, os irmãos, a família, enfim, e sai o estereótipo: "Nunca pensei...Fiquei em estado de choque (ou: "estou devastado", que se usa muito, hoje em dia, sobretudo nas revistas róseas...)!" Depois, vêm os psicólogos (lobby muito importante e essencial, actualmente, nestas coisas) explicar ou, então, dar apoio psicológico aos familiares das vítimas. É esta a rede assistencial e clientelar dos acidentes ou desastres - os suspeitos do costume. Mais a gentinha que, no local fatídico ou simbólico, vem pôr inúmeros ramos de flores, cartazes e velinhas acesas - uma espécie de indústria caseira de caridade, que os meios de informação aproveitam para fotografar ou filmar. Porque tem colorido, emociona as almas simples, apaga remorsos, e faz vender jornais...
Quando é que isto terá começado? E será que algum dia irá acabar? Dando lugar ao silêncio, à discrição, à compassividade interior de cada um e sem o mínimo folclore exibicionista.

6 comentários:

  1. O assassino fez encomendas pela net de livros e armamento em sites nazis americanos. Não deviam proibir e encerrar os sites nazis?

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    1. Certamente. Mas não podemos esquecer que estamos inseridos numa sociedade altamente hipócrita e politicamente correcta..:-(

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  2. Concordo com tudo o que escreveu.
    É a sociedade do espectáculo.
    Uma boa semana.

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    1. É sempre gratificante ter companhia..:-)
      Uma boa noite.

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  3. Há muito que só o trágico vende porque só pelo trágico a maioria se deixa tocar

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    1. Infelizmente. Vêem a casca, não se apercebem do miolo...

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