quarta-feira, 27 de abril de 2016

A par e passo 165


O grande pintor Degas falou-me muitas vezes de uma observação de Mallarmé, que é muito apropriada e simples. Degas, às vezes, escrevia versos, e deixou alguns deliciosos. Mas tinha grandes dificuldades nesse trabalho acessório da sua pintura. (Aliás, ele era pessoa para pôr em qualquer arte, que praticasse, inúmeras dificuldades.) Disse ele um dia a Mallarmé: "O seu ofício é infernal. Eu nunca consigo fazer aquilo que quero, embora tenha imensas ideias..." E Mallarmé respondeu-lhe: "Não é com ideias, meu caro Degas, que se fazem versos. É com palavras."

Paul Valéry, in Variété V (pg. 141).


4 comentários:

  1. Espera-se que tb com algumas ideias. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O axioma de Mallarmé é discutível, do meu ponto de vista.
      As ideias têm, no entanto, que ser larvares, pouco conscientes e não assertivas, para que se instalem no poema. Mas há vários tipos de poetas...
      Em todo o caso, as ideias nos poetas portugueses, são raras: Sá de Miranda, mais do que Camões, Francisco Manuel de Melo, Herculano, um pouco, Quental, Pessoa e Sena - o lirismo é predominante nos restantes.
      Bom dia!

      Eliminar