terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sobre a dificuldade em Poesia



A propósito da dificuldade em perceber, inteiramente, alguns poemas ou poetas, George Steiner (1929) diz numa entrevista: " Leio todos os dias Heráclito e certos poetas modernos como Paul Celan, e ainda quando talvez não compreenda bem os textos, aprendo-os de cor para que façam parte integrante do meu ser . A obra de súbito acolhe-me, sem se explicar e eu acedo finalmente ao poema. Nem por isso posso voltar para os meus seminários proclamando que enfim compreendi a obra, o que seria ao mesmo tempo arrogante e pretensioso. Todavia, é verdade que a incompreensão se transformou em amor, em fertilidade, em acto de confiança perante aquilo que me escapa."

4 comentários:

  1. Vergílio Ferreira escreveu no «Em nome da terra» a frase que eu escolheria se alguém me pedisse para, numa linha, definir a minha «falha tectónica» (ou, usando uma expressão mais pomposa, a «falha tectónica» do meu ser): «Preciso de entender, não te vou agora amar à toa.» Voltei a encontrar esta ideia no poema de Albano Martins, «Ninguém ama de olhos fechados»:

    «Dormir, sim,
    quando o silêncio
    dói. Mas nunca
    se dorme quando
    o amor
    é uma insónia. Ninguém
    ama de olhos
    fechados.»

    O meu problema é ter consciência (ou, talvez melhor, uma intuição) que por ser assim há verdades que me escapam...

    Extraordinariamente arguta, a sua escolha deste texto. É um privilégio conversar consigo. Muito obrigado.

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  2. Agradeço as suas palavras.
    Três notas:
    1. Há poetas que se negam à claridade, por ex.:Blake, Celan,H. Helder,Char,E.Dickinson e, por vezes,até Sá de Miranda. Com o tempo e convivência, vão-se "dando",pouco a pouco.
    2.E. de A.tem uns versos lapidares:
    "...De coisas que te dou
    para que tu as ames comigo:..."
    A partilha é um acto de afecto,também.
    3. Demorei anos (20?,30?)a entender, completamente,uma frase muito "simples" que T.E.Lawrence ( "Lawrence da Arábia" de D. Lean) diz ao Principe Faiçal(creio)quando este lhe pergunta o nome. A frase é: "My name is for my friends!". Que no fundo é o mesmo pensamento que surge no "Romanceiro Espanhol" : "Yo no digo mi canción / sino a quien comigo va".

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  3. Eu sou para aqueles que eu escolho e que me conhecem. Mais ou menos isto, não?
    Não conhecia a frase de T. E. Lawrence que me parece muito previdente.

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  4. É esse e em síntese o meu entendimento das frases,MR.

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