domingo, 31 de janeiro de 2010

O Piolho Viajante



Os séculos XVIII e XIX foram pródigos num tipo de literatura marginal, e secundária, publicada em folhetos semanais ou mensais que faziam as delícias de quem sabia ler. Faziam rir, propunham adivinhas, criticavam os costumes, orientavam gostos e preferências. Sendo obras ligeiras, escritas sem grande preocupação de estilo, preenchiam os ócios e eram muito populares.

E vendiam-se bem. Algumas foram verdadeiros "best-sellers" na época. Dois dos autores consagrados, destes folhetos, foram: José Daniel Rodrigues da Costa e António Manuel Policarpo da Silva. A obra mais conhecida deste último dá pelo extenso nome de "O Piolho Viajante, divididas as viagens em mil e uma carapuças" e começa assim:

"Eu nasci lá para a Ásia, de um ajuntamento de uma Piolha e um Elefante, ainda que houve quem disse que uma Tarântula macha foi quem me deu o dia. Mas fosse ou não fosse, isso é coisa insignificante; porque como os Piolhos não têm morgados que herdar, as Piolhas têm pouco escrúpulo de que seja este ou aquele Pai de seus filhos ainda que não deixe de haver muitas Piolhas escrupulosas e com muito bons sentimentos. Seja ou não seja, meu Pai desconfiou muito de eu não ser seu filho, o que deu não poucos cuidados à minha mãe, e talvez fosse a origem da sua morte. Mas é certo que ele não teve razão nenhuma, pois minha mãe me certificou, depois dele morrer, que ela não tivera dares nem tomares com outro algum indivíduo..."

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