sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mercearias Finas 1


Vou começar por fazer uma declaração de interesses : não sou um "gourmet", mas aprecio comer bem e beber vinhos que me agradem, e tento que cada iguaria se case o melhor possível com a bebida certa. Dito isto, continuo. Conheço bem a gastronomia portuguesa e, razoavelmente, a alemã, a espanhola, a belga e a inglesa. Conheço mal a francesa.

Até hoje nunca percebi como é que a gastronomia inglesa é tão pobre, dessaborida e monótona. Se fosse britânico diria : "dull", ou "gloomy". Sendo um povo que eu admiro culturalmente - e gastronomia, para mim, também é cultura - em muitas áreas : literatura, história, arte em geral, etc., quando comem, contentam-se com umas burundangas corriqueiras e assépticas. E, no entanto, o meu amigo Américo Guerreiro de Sousa (conhecedor emérito da vida inglesa) diz-me, e eu acredito, que os "colleges" de Oxford e Cambridge, em matéria vinícola, têm autênticas preciosidades nas suas caves. Acredito, até porque há provas dadas do seu "feeling" e apetência de criadores: o nosso vinho do Porto! Portanto, a culpa deve ser do nevoeiro ... Em terras do sol, os ingleses florescem e dão o seu melhor.

Felizmente que a nossa gastronomia é rica, diversificada e apelativa. Os estrangeiros que conheço gostam imenso da comida e dos vinhos portugueses. Não tivessemos nós, entre outros, dois pratos tutelares de peixe e de carne: a caldeirada e o cozido à portuguesa. Um, óptimo no Verão, outro, um conforto prandial para o Inverno.

Vem isto tudo o propósito de um queijo e de um vinho, casados por mim, no almoço de hoje, ao final, como sobremesa.

Uma amiga teve a gentileza de me trazer e oferecer um queijo de Alcains, mais concretamente de Monte da Pedra da Légua (veja-se o rótulo). Era excelente: pasta irregular, artesanal, mas com sabor divino - se é que isto existe na Terra. Afortunadamente acompanhei-o com um Tinto da Adega Cooperativa de Pegões, colheita seleccionada de 2007 que cumpriu, com honra, a exigência que se lhe pedia.

Aconselho, aos que me lerem, este casamento particularmente feliz. E se puderem, no Tinto, trocar o de 2007 pela colheita de 2005, o casamento será ainda mais completo. Porque está mais no ponto. Não sei se será como o arroz de favas do Jacinto d'"A Cidade e as Serras" (pp. 212-213, 9ª ed. de 1924) de Eça de Queiroz, mas, com certeza, ninguém se deve arrepender do dinheiro que vier a gastar.

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