domingo, 31 de janeiro de 2010

Fernando Assis Pacheco



Amanhã, 1 de Fevereiro, se fosse vivo, Fernando Assis Pacheco faria 73 anos mas, infelizmente, morreu à entrada do "Paraíso" (para quem gostava tanto de livros!): à porta da Livraria Buchholz, em 30 de Novembro de 1995. O coração já lhe tinha feito várias ameaças, e foi de vez, nessa manhã fria de Novembro. Para quem fez a guerra em Angola, foi quase uma morte literária. Lembro-o através dum dos seus últimos textos, incluído em "Respiração Assistida".


"Bento Soares


Aquele tiro podia ter sido para mim, que estava sentado ao lado de um colega alferes quando este foi atingido numa perna. Vinte centímetros mais à direita e seria eu a apanhá-lo. Não fui. Como os soldados diziam, não chegara a minha hora, mesmo aproximada.

A hora chegava quando menos se esperava. Bento Soares empinado na caixa da GMC julgou-se de pedra, mas era pobre indefesa carne humana e assim morreu, gritando ainda o nome da mãe - contaram-me - antes de o estenderem nas tábuas para o inútil cuidado do furriel enfermeiro.

Deram-me a notícia em Luanda, aonde viera em tratamento de mazelas nervosas. Durante o dia eu gastava o meu abandono cinzento jogando bowling e bebendo cerveja. Também passeava na Marginal, a olhar os dongos entre os cargueiros como insectos num tanque. Foi aí que outro alferes de Zala me travou do braço e fez o relato da morte completa do Soares. Sempre o mesmo comentário: chegara a sua hora, quem há aí que desvie o braço da grande ceifeira? Creio que falávamos deste modo literário um pouco tolo.

Levei anos a esquecer e a recordar Bento Soares. O que resta dele está num poema antigo, que por pudor não leio nos anfiteatros."

O Piolho Viajante



Os séculos XVIII e XIX foram pródigos num tipo de literatura marginal, e secundária, publicada em folhetos semanais ou mensais que faziam as delícias de quem sabia ler. Faziam rir, propunham adivinhas, criticavam os costumes, orientavam gostos e preferências. Sendo obras ligeiras, escritas sem grande preocupação de estilo, preenchiam os ócios e eram muito populares.

E vendiam-se bem. Algumas foram verdadeiros "best-sellers" na época. Dois dos autores consagrados, destes folhetos, foram: José Daniel Rodrigues da Costa e António Manuel Policarpo da Silva. A obra mais conhecida deste último dá pelo extenso nome de "O Piolho Viajante, divididas as viagens em mil e uma carapuças" e começa assim:

"Eu nasci lá para a Ásia, de um ajuntamento de uma Piolha e um Elefante, ainda que houve quem disse que uma Tarântula macha foi quem me deu o dia. Mas fosse ou não fosse, isso é coisa insignificante; porque como os Piolhos não têm morgados que herdar, as Piolhas têm pouco escrúpulo de que seja este ou aquele Pai de seus filhos ainda que não deixe de haver muitas Piolhas escrupulosas e com muito bons sentimentos. Seja ou não seja, meu Pai desconfiou muito de eu não ser seu filho, o que deu não poucos cuidados à minha mãe, e talvez fosse a origem da sua morte. Mas é certo que ele não teve razão nenhuma, pois minha mãe me certificou, depois dele morrer, que ela não tivera dares nem tomares com outro algum indivíduo..."

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um Rimbaud prosaico : J. D. Salinger




Jerome David Salinger (1919-2010), conhecido literariamente por J. D. Salinger, faleceu ontem, 28/1/2010, de causas naturais. A sua primeira e mais emblemática obra "The Catcher in the Rye", publicada em 1948, teve um extraordinário sucesso, e foi usado simbolicamente por Mel Gibson no filme "Teoria da Conspiração". O assassino de John Lennon também usou esse livro para que o cantor o autografasse, antes de disparar, mortalmente, sobre ele.

Salinger publicou apenas mais três livros, o último dos quais, "Hapworth 16, 1924", em 1965.

Depois, foi a reclusão quase total, pouco se sabendo da sua vida.

O livro "The Catcher in the Rye", traduzido, inicialmente para português por "Uma Agulha no Palheiro", e que li, na versão original, é talvez a obra de que mais gosto de todas as que conheço da literatura norte-americana.

Sá de Miranda em Itália



Dado como autêntico existe apenas conhecido uma gravura-retrato de Francisco de Sá de Miranda (1481?-1558). Da sua descrição física e parecer, há o seguinte texto considerado fidedigno: "Foi homem grosso de corpo, de meã estatura, muito alvo de mãos e rostro, com pouca cor nele, o cabelo preto e corredio, a barba muito povoada, e de seu natural crecida, os olhos verdes bem assombrados, mas com alguma demasia grandes, o nariz comprido e com cavalo, grave na pessoa, melancólico na aparência, mas fácil e humano na conversação, engraçado nela com bom tom de fala, e menos parco em falar que em rir; ..."

Da sua presença e estadia em Itália (cca. 1526), ficou-nos um poema intitulado "Cantiga feita nos grandes campos de Roma":

"Por estes campos sem fim,
onde a vista assim se estende,
que verei, triste de mim,
pois ver-vos se me defende?

Todos estes campos cheios
são de saudade e pesar,
que vem para me matar
debaixo de céus alheios.

Em terra estranha e em ar,
mal sem meio e mal sem fim,
dor que ninguém não entende,
até quam longe se estende
o vosso poder em mim!"

Notas de Leitura : E. M. Cioran



Transcrevo, traduzindo, de "Cahiers - 1957/1972" de E. M. Cioran (1911-1995) as seguintes palavras e/ou aforismos:

"Os escritores, os poetas sobretudo, que exercem uma influência excessiva, tornam-se rapidamente ilegíveis. Byron é o exemplo mais ilustre. Rousseau também, mas num grau menor."

"Uma obra passa por três fases: a dos fanáticos, depois a dos curiosos, finalmente, a dos professores."

"A poesia é o lado mais perecível do estilo. Ela não dura, não permanece viva a menos que seja implícita, não evidente, involuntária, secreta e mesmo imperceptível."

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Justiça vista por Jazente



O injustamente esquecido Paulino António Cabral (1719-1789), mais conhecido por Abade de Jazente - freguesia onde pastoreou almas e não só -, era um arguto observador dos costumes citadinos e dos hábitos rurais. Crítico mordaz, deixou-nos versos realistas de saborosa leitura. Para quem pensa que os males da Justiça portuguesa são de hoje, aconselho a leitura deste soneto do Abade.


Citado o réu, a Acção distribuida,

Oferece-se o libelo na audiência;

Entra logo uma cota, uma incidência,

Apenas em dez anos discutida.


Contraria-se tarde; ou recebida

Uma excepção, faz nova dependência:

Crescem as dilações, e a paciência,

Uma das partes perde, ou perde a vida.


Habilita-se um filho, outro demora;

E de novos artigos na disputa,

Mais se dilata a causa, ou se empiora.


Contudo põe-se em prova, ou circunduta,

Em casa do Escrivão bem tempo mora,

E se há sentença enfim, não se executa.

Ernst Barlach : "Der Schwebende Engel"






No mês em que se celebram os 65 anos da libertação dos sobreviventes de Auschwitz, pelo Exército Vermelho, apraz-me lembrar o gráfico e escultor alemão Ernst Barlach (1870-1938) cuja obra foi parcialmente destruida pelos nazis. Dos seus trabalhos, o meu preferido é "Der Schwebende Engel" (O Anjo Suspenso) que se pode ver na Antoniter Kirche, em Colónia, na Schildergasse. A pequena igreja (evangélica), integrada numa rua de intensa vida comercial, é um oásis de tranquila claridade e recolhimento. O rosto do Anjo é o retrato de Käthe Kollwitz (1867-1945), outra grande escultora e desenhadora alemã. A estátua suspensa é posterior à II Grande Guerra e foi feita pelo molde que Barlach deixara. Por baixo do Anjo está uma lápide com as datas "1914-1918 / 1939-1945", celebrando as vítimas da Guerra.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

W. A. Mozart (27/1/1756-5/12/1791)

Para um compositor de eleição, um pianista intérprete de excepção: Alfred Brendel.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Favoritos VI : João Guimarães Rosa



O meu primeiro contacto com a obra de João Guimarães Rosa data, precisamente, do ano da sua morte: 1967. Tinha nascido a 27 de Junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais, Brasil, e faleceu três dias depois de tomar posse na Academia, de enfarte, a 19 de Novembro de 1967. Em Outubro, Eugénio de Andrade, sabendo que eu ia cumprir o serviço militar obrigatório a partir de Janeiro de 1968, em Mafra e no auge da Guerra Colonial, tinha-me aconselhado: "Leia o Guimarães Rosa, talvez ajude!..." E eu segui o conselho. Comecei pelo "Miguilim e Manuelzão" da Ed. Livros do Brasil e aí começou também o meu deslumbramento. Seguiram-se "Sagarana", "Tutaméia", "Grande Sertão: Veredas"... Considero-o um dos maiores prosadores da língua portuguesa, e talvez o maior da literatura brasileira. É, não só um efabulador notável, mas um recriador fértil do léxico ficcional, pelo seu vasto conhecimento de línguas e do português arcaico e também pela sua imaginação prodigiosa. A tudo isto há que juntar um humor subtil, uma enorme e afectuosa atenção às coisas terrestres como se vistas da pequena altura de uma criança curiosa e grata. Dele, vou transcrever um pequeno excerto de "Miguilim e Manuelzão" que retrata o momento em que o senhor da grande cidade, ao chegar à sua fazenda, se apercebe que Miguilim, o pequeno filho do seu rendeiro, vê mal e precisa de usar óculos. Aqui vai:

"...Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.

- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa'

- É Mãe, e os meninos...

Estava Mãe, estava Tio Terêz, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: «- Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora? » Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomèzinho tinha ido se esconder.

- Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim...

E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.

- Olha, agora!

Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa; tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvêlo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha, a Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu: «-Miguilim, você é piticégo...» E ele respondeu: «- Donazinha...»"

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

As Mulheres Portuguesas no séc.XVIII



Giuseppe Gorani (1740-1819), espião, aventureiro e agente secreto, visitou Portugal entre 1765 e 1767, tendo sido apresentado ao Marquês de Pombal e frequentado a corte de D. José. Sobre as mulheres portuguesas, no seu livro sobre a viagem e estadia no nosso país, disse:

"...Decerto que com as mulheres portuguesas as intrigas de amor são mais perdoáveis do que as mulheres de qualquer outro país, pois incontestavelmente são as mais belas e sedutoras de todas as europeias. Nelas, as graças perduram além da mocidade e lembremo-nos da impressão que causava, ainda com quarenta e três anos de idade e já mãe de muitos filhos a famosa Marquesa de Távora, que o Ministro Conde de Oeiras iníqua e barbaramente mandou decapitar, por crimes que ela não cometeu.

As portuguesas, que em geral conservam as suas belezas pelos anos fora, são muito belas durante a mocidade. Não há país onde as mulheres se apresentem mais sedutoramente. Desconhecem as modas francesas e manifestam até um certo desprezo por elas. Aliás, nenhuma mulher portuguesa estaria disposta a abandonar o trajo do seu país, que tanto a favorece e lhe realça a beleza e graças peculiares..."

domingo, 24 de janeiro de 2010

Bibliofilia 5 : João Xavier de Matos






João Xavier de Matos (1730?-1789) foi poeta lido e estimado no séc. XVIII. Almeida Garrett refere o seu nome no prefácio à "Lírica de João Mínimo". A sua écloga "Albano e Damiana", inicialmente impressa em folheto, teve imensas edições (1758, 1768, 1784, 1790...) e seria depois integrada num dos três volumes das suas "Rimas".
O primeiro tomo da sua obra foi impresso em 1770, teve uma 2ª edição, no Porto (Officina de Clamopin, Grouteau Durand), em 1773, uma terceira edição de novo em Lisboa, em 1775. Neste mesmo ano saíu o II volume das "Rimas", mas só em 1783 viria a ser publicado o III tomo, completando-se, assim, a obra impressa em livro de João Xavier de Matos, fervoroso admirador de Camões. A última publicação das suas obras foi em 1827 e ficou a dever-se à Academia das Ciências. Depois, o silêncio, apenas quebrado - creio - por dois artigos : um, de Jacinto Prado Coelho, outro de David Mourão-Ferreira.
O nosso exemplar do I tomo das "Rimas" de Albano Erithreo, assim se chamava Xavier de Matos na Arcádia Portuense, foi comprado no final dos anos 70 do século passado e custou Esc. 800$00 (cerca de euros 4,00), em Lisboa. Está completo, em razoável estado de conservação, muito embora a encadernação merecesse um restauro. Não é muito frequente aparecer à venda em alfarrabistas ou em leilão.


Há 90 anos : "amour fou"








Amedeo Modigliani (1884-1920), pintor e amigo de Souza-Cardoso, morre tuberculoso em Paris, a 24 de Janeiro de 1920. Um dia depois, a 25 de Janeiro, Jeanne Hébuterne (1898-1920), sua companheira, suicida-se, atirando-se do 5º andar, da casa onde viviam, para a rua.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Memória 10 : A. H. de Oliveira Marques



Perfazem-se hoje, 23 de Janeiro, três anos sobre a morte do Prof. Dr. A. H. de Oliveira Marques (1933-2007).

Da sua vasta bibliografia destaco "Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa"; e, também, "A Sociedade Medieval Portuguesa", obra fundamental que deu a conhecer a gerações de portugueses o detalhe quotidiano dessa época, num tom de escrita sóbrio e preciso.

De dois ou três breves contactos guardo, pessoalmente, uma grata impressão de sábia simplicidade.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mercearias Finas 1


Vou começar por fazer uma declaração de interesses : não sou um "gourmet", mas aprecio comer bem e beber vinhos que me agradem, e tento que cada iguaria se case o melhor possível com a bebida certa. Dito isto, continuo. Conheço bem a gastronomia portuguesa e, razoavelmente, a alemã, a espanhola, a belga e a inglesa. Conheço mal a francesa.

Até hoje nunca percebi como é que a gastronomia inglesa é tão pobre, dessaborida e monótona. Se fosse britânico diria : "dull", ou "gloomy". Sendo um povo que eu admiro culturalmente - e gastronomia, para mim, também é cultura - em muitas áreas : literatura, história, arte em geral, etc., quando comem, contentam-se com umas burundangas corriqueiras e assépticas. E, no entanto, o meu amigo Américo Guerreiro de Sousa (conhecedor emérito da vida inglesa) diz-me, e eu acredito, que os "colleges" de Oxford e Cambridge, em matéria vinícola, têm autênticas preciosidades nas suas caves. Acredito, até porque há provas dadas do seu "feeling" e apetência de criadores: o nosso vinho do Porto! Portanto, a culpa deve ser do nevoeiro ... Em terras do sol, os ingleses florescem e dão o seu melhor.

Felizmente que a nossa gastronomia é rica, diversificada e apelativa. Os estrangeiros que conheço gostam imenso da comida e dos vinhos portugueses. Não tivessemos nós, entre outros, dois pratos tutelares de peixe e de carne: a caldeirada e o cozido à portuguesa. Um, óptimo no Verão, outro, um conforto prandial para o Inverno.

Vem isto tudo o propósito de um queijo e de um vinho, casados por mim, no almoço de hoje, ao final, como sobremesa.

Uma amiga teve a gentileza de me trazer e oferecer um queijo de Alcains, mais concretamente de Monte da Pedra da Légua (veja-se o rótulo). Era excelente: pasta irregular, artesanal, mas com sabor divino - se é que isto existe na Terra. Afortunadamente acompanhei-o com um Tinto da Adega Cooperativa de Pegões, colheita seleccionada de 2007 que cumpriu, com honra, a exigência que se lhe pedia.

Aconselho, aos que me lerem, este casamento particularmente feliz. E se puderem, no Tinto, trocar o de 2007 pela colheita de 2005, o casamento será ainda mais completo. Porque está mais no ponto. Não sei se será como o arroz de favas do Jacinto d'"A Cidade e as Serras" (pp. 212-213, 9ª ed. de 1924) de Eça de Queiroz, mas, com certeza, ninguém se deve arrepender do dinheiro que vier a gastar.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Citações IX : Antonio Machado



Entre adágio e poema, Antonio Machado (1875-1939) incluiu, nos seus "Provérbios e Cantares" (XXIV), esta quadra plena de sabedoria:


"De dez cabeças, nove

investem e uma pensa.

Não estranhes que um bruto

se desunhe por uma ideia."

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Dar notícia : "Rezar em Português"


Embora sem competência científica para comentar o trabalho e a obra, queria dar notícia da saída de 2 voluminhos "gulosos" na apetência de manuseio e leitura, inseridos em caixa aberta de cartão, que a Biblioteca Nacional de Portugal fez editar. Trata-se de "Rezar em Português", edição fac-similada de um Livro de Horas "composto em português, impresso em Paris, em 1500/1501, e o único exemplar conhecido encontra-se na Biblioteca do Congresso em Washington." - conforme no-lo diz o autor da introdução e estudo amplo inicial, Prof. Dr. João Alves Dias.
O preço é convidativo e acessivel: euros 20,00.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sobre a dificuldade em Poesia



A propósito da dificuldade em perceber, inteiramente, alguns poemas ou poetas, George Steiner (1929) diz numa entrevista: " Leio todos os dias Heráclito e certos poetas modernos como Paul Celan, e ainda quando talvez não compreenda bem os textos, aprendo-os de cor para que façam parte integrante do meu ser . A obra de súbito acolhe-me, sem se explicar e eu acedo finalmente ao poema. Nem por isso posso voltar para os meus seminários proclamando que enfim compreendi a obra, o que seria ao mesmo tempo arrogante e pretensioso. Todavia, é verdade que a incompreensão se transformou em amor, em fertilidade, em acto de confiança perante aquilo que me escapa."

D.Sebastião, o Desejado, (20/1/1554 - 4/8/1578)



O "Sebastianismo" é uma das diagonais mais profundas da mitologia portuguesa. Chame-se, ou tenha-se chamado: "saudosismo", fado, "Nova Renascença", Sidónio Pais, Salazar, iberismo... Mas esta espera por um milagre que se atrasa, ou não se cumpre inteiramente, é ,porventura, também origem de uma qualidade imperfeita que nos define enquanto portugueses: o "desenrascanço". As soluções de improviso de quem espera até ao limite e tem, no último momento, de arranjar uma saída para o problema ou crise que não se resolveu por si, nem por alheios factores,nem com o tempo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eugénio de Andrade, ainda





Sobre Eugénio de Andrade que amanhã, 19 de Janeiro, completaria 87 anos, e sobre a momentosa decisão da Presidência de Conselho de Ministros que avalia a hipótese da extinção da Fundação com o nome do Poeta, sita na Foz/ Porto, há ainda tempo para relembrar o autor de "Até Amanhã"; ou sepultá-lo, mais uma vez.

Espero que prevaleça a gratidão e o reconhecimento em relação a Alguém que não "usava o coração com usura" e que nos deixou alguns dos mais belos poemas líricos do século XX, na Literatura Portuguesa.

P.S.: o pequeno texto "Post Scriptum sobre a alegria",reproduzido acima, sublinhava a exposição de Angelo de Sousa, na Cooperativa "árvore" do Porto, em 1964.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Como de Camus passei a Cioran, passando por O'Neill



Neste domingo, de amena temperatura, que mal parece de Janeiro, vou pela rua Garrett, com um objectivo bem definido: comprar na Fnac o último livro, inacabado, de Albert Camus - "Le Premier Homme". O manuscrito estava na mala do escritor , dentro do carro acidentado, onde perdeu a vida, juntamente com o editor Gallimard. A mulher tinha optado por não o publicar, mas a filha, Catherine, decidiu editar a obra inacabada, em 1994. Mesmo assim, grande parte dos críticos literários consideraram o romance uma obra-prima. Nunca o li e estava com grande vontade de o comprar, até porque era um dos poucos ou o único livro de Camus que não lera. Já na Fnac, percorro, atenta e milimetricamente, as prateleiras, e nada. O autor de "A Queda" tinha sido avidamente comprado e, por junto, restavam apenas 2 exemplares de "L'Homme Révolté".

Desanimado, procuro compensação. Acabo por trazer de Alexandre O'Neill "Anos 70 - poemas dispersos" que lera no DL, mas não tinha em livro; e de E. M. Cioran "Ébauches de Vertige" que, só depois me apercebo, contém excertos do volume "Écartelement", livro que eu já tinha. Mas vou lendo. Respigo de Cioran, uma amostra do que poderia ter sido o início de um romance de terror, não fosse o autor um preguiçoso confesso da escrita continuada e persistente e que, praticamente, só nos deixou admiráveis aforismos e pequenas reflexões, e memórias. De Camus, por exemplo, nunca gostou muito.

Mas aqui vai o texto de Cioran, em tradução livre e despreocupada de domingo:

"Paris acorda. Nesta manhã de Novembro, ainda está escuro: avenida do Observatório, um pássaro, um único, ensaia o seu cantar. Paro e escuto. De repente, uns grunhidos nas proximidades. É impossível saber donde vêm. Avisto entretanto dois ¨clochards¨ que dormem debaixo de uma camioneta. Um deles deve ter tido um pesadelo. Afasto-me rapidamente. Na ¨Place Saint-Sulpice¨, num urinol, dou com uma velhinha semi-nua. Dou um grito de horror e precipito-me para dentro de uma igreja, onde um padre corcunda, com olhar maléfico explica, a uma quinzena de deserdados de idades muito diversas, que o fim do mundo está próximo e o castigo será terrivel."

Memórias de Infância




Theodor Storm, Pole Poppenspäler



Theodor Storm (14.9.1817 - 4.7.1888), escritor alemão - de poesia e prosa - integra-se numa corrente literária do Realismo que, com cambiantes e influências próprias, cobriu, genericamente, o espaço europeu da segunda metade de século XIX.

São as novelas de Th. Storm que, no momento, mais nos interessam. Falamos, então, de pequenas narrativas em que a sua terra dos Frísios encontra, para além do enredo, um cativante espaço geográfico e afectivo a descobrir. São, de facto, os nativos que, por norma, conseguem traduzir melhor a singularidade do seu ambiente de pertença.

No entanto, o que poderá cativar, ainda, a leitura das pequenas novelas de Th. Storm, não sendo ele um dos escritores realistas de primeira linha, será, porventura, a frescura das suas palavras. Emprestando, com frequência, a sua voz a uma personagem de tenra idade, transporta-nos para um universo ficcional duplo. O enredo no seu conjunto, marcado por uma perspectiva realista do universo ficcionado, transmitido pelo olhar das crianças. A diferença de escala da vida dos adultos tem, para os pequenos, um encanto que, não obstante a rudeza do real, se transforma em mistério.

A pequena novela Pole Poppenspäler - com cerca de 300 edições registadas na Biblioteca Nacional da Alemanha, traduzida em vários idiomas, entre eles o inglês e o francês - conta-nos a vida, quiçá miserável, de uma família de saltimbancos que se dedica, de alma e coração, à apresentação de espectáculos de marionetas. Uma vida reprovável pelos adultos nativos de qualquer localidade, embora acolhida num espaço e numa realidade de trabalho sem grandes momentos de lazer, fará, no entanto, o encanto das crianças. Sem preconceitos percorrem os espaços estranhos da representação, convivem com os forasteiros, tornam-se amigos e, nos final, até marido e mulher.


Para sublinhar o encanto da escrita para a infância, e não só, nada melhor que recordar a Sinfonia de Brinquedos do pai de Mozart.


Post de HMJ

Apollinaire, Raoul Dufy, D. Pedro e o Dromedário


Os temas de origem portuguesa são raros na iconografia e literatura estrangeira. Destacam-se Pedro e Inês (Claudel), o terramoto de Lisboa, as "Cartas Portuguesas" de Mariana Alcoforado, e pouco mais. Menos conhecido, há um poema de Apollinaire, "Le Dromadaire", ilustrado por Dufy para "Le Bestiaire ou Cortege d'Orphée" que, apesar de algumas imprecisões, merece ser lembrado:


"Avec ses quatre dromadaires
Don Pedro de Alfaroubeira
Courut le monde et l'admira.
Il fit ce que je voudrais faire
Si j'avais quatre dromadaires."

P.S.: com agradecimentos a H.N..

sábado, 16 de janeiro de 2010

A segunda morte de Eugénio de Andrade



No próximo dia 19 de Janeiro completam-se 87 anos sobre o nascimento de Eugénio de Andrade (1923-2oo5), poeta que tive o grato privilégio de conhecer pessoalmente. Em Junho próximo farão 5 anos sobre a sua morte. Mas parece que há gente, interesses e negligências apostados,

de uma forma mesquinha e sórdida, em sepultá-lo, mais uma vez.

O jornal "Público" de hoje faz-se eco de desavenças, equívocos e razões economicistas e de "Estado" que poderão levar ao colapso e desaparecimento da Fundação Eugénio de Andrade, sediada na Foz/Porto.

Para lá do poema que vou transcrever, abaixo, voltarei a Eugénio, proximamente.

"Frente a Frente


Nada podeis contra o amor.

Contra a cor da folhagem

que renasce,

contra a carícia da espuma,

contra a luz, nada podeis.


Podeis dar-nos a morte,

a mais vil, isso podeis

- e é tão pouco!"

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Miguel Torga




No próximo domingo, 17 de Janeiro, completam-se 15 anos sobre a morte de Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Rocha (1913-1995) escritor médico que, em 1960, no seu "Diário IX" escreveu estas sábias palavras : " É uma tristeza! Tudo esquece. Ou prescreve, como ouvi a um optimista. Até mesmo as horas mais intensamente vividas acabam por se apagar da memória.

A folhear há pouco um velho caderno de notas, verifiquei esta desgraça: quando não explicitei a ressonância que tiveram no meu espírito certos acontecimentos, só a muito custo e brumosamente consegui relembrá-los. Passava por cima das datas que simplesmente os assinalavam como os turistas pelos claustros pavimentados de lajes funerárias, onde apenas se lê o ano de nascimento e o da morte dos anónimos humanos que sob elas apodrecem."

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Poesia Provençal



Guilherme de Aquitânia (1071-1127), nono duque de Aquitânia e sétimo conde de Poitiers, foi poeta e guerreiro. É considerado um dos grandes nomes da poesia provençal. Há um poema, de sua autoria, que irei traduzir, parcialmente, abaixo, muito ambicioso na intenção. Guilherme de Aquitânia queria fazê-lo do nada; ou seja, que ele fosse pura poesia: início, meio e fim. Não sei se o conseguiu, mas tentou...


Farei um poema do puro nada.
Não falarei de mim nem de outra gente.
Não celebrará o amor nem juventude
nem coisa alguma,
só que o poema foi composto
dormindo sobre um cavalo.


Não sei a que horas nasci,
não estou alegre nem triste,
não sou estranho ou sociável,
e não posso fazer outra coisa,
que para isto fui de noite fadado
no alto de uma montanha..."

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Citações VIII : D. Francisco de Portugal

" Os tímidos roubam a si mesmos."

"Dos pequenos as culpas se chamam grandes, e as dos grandes pequenas."

"A boa fortuna não somente faz as obras mas autoriza as palavras."

in "Sentenças" de D. Francisco de Portugal (1485?-1549), 1º Conde de Vimioso.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Memória 9 : Éric Rohmer



Importante cineasta europeu, Eric Rohmer (1920-2010) realizou "A minha noite em casa de Maud" e "O Joelho de Claire", entre muitos outros filmes em que as palavras e os diálogos tinham um lugar nobre e imprescindível.

Escreveu também "Seis contos morais", em cujo prefácio diz : " A angústia das minhas seis personagens em busca de história reproduz a angústia do próprio autor perante a sua própria impotência criadora, que o processo quase mecânico de invenção aqui utilizado - a variação acerca de um tema - só imperfeitamente dissimula."

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Salão de Recusados VII : Nuno Bragança

"Eram 11 horas da manhã quando o homem reentrou na sua casa. O vazio dela não o angustiou no imediato, sentia-se cansado de mais para encontrar quaisquer pessoas.
Sentado no living escurecido pelos estores corridos, fumou metade de um cigarro, de que apagou o resto no cinzeiro branco, e carregou na alavanca que havia no centro do objecto. O disco de metal girou, fazendo desaparecer cinza e resto de cigarro no bojo do cinzeiro: o ruído metálico que ele ouvira através do vidro fosco iluminado, quando se dirigia do telefone à casa de banho às quatro e trinta da outra manhã.
Pensou em tomar banho, desistiu. Não lhe apetecia rever a casa de banho.
Entrou no quarto de casal onde pairava o perfume da mulher. Acendeu a luz porque o estore estava baixado e as cortinas tinham sido corridas. Abriu a cama. Enquanto se despia teve a impressão fugaz de ouvir ao longe a voz de uma mulher cantando
"Quem quer figos
quem quer almoçar"
Ficou imóvel, mas o som não se repetiu. Então meteu-se nu na cama e fechou os olhos.
Os ruídos da cidade chegavam-lhe remotamente aos ouvidos, o quarto estava quase silencioso e escuro.
O homem tentou relaxar o corpo, não pensar. Imagens da sua directa esbombardeavam-lhe a sensibilidade. Estava difícil o encontrar o vácuo necessário ao pegar do sono. Sem premeditação, o homem falou alto, na sua casa vazia. E disse:
"Vigiei trinta e uma horas seguidas. Acho que se não foi conTigo é porque não ressuscitaste."
Os minutos decorriam e ele não conseguia adormecer. Parecia-lhe que nunca mais ia conseguir adormecer."

( final ) de "Directa" de Nuno Bragança (1929-1985).

domingo, 10 de janeiro de 2010

Um Poeta (quase) desconhecido

Sabe-se pouco sobre Joaquim Fortunato de Valadares Gamboa (1745-1815) e, o pouco mais que se sabe, hoje, é devido ao trabalho persistente e silencioso de Pedro da Silveira (1922-2003), também ele poeta, que publicou em 1999, em edição de "O Mirante - Jornal da Região do Ribatejo", Santarém, uma "Antologia Poética" do autor, na colecção "Alma Nova".
No panorama, um pouco desolador, da poesia portuguesa do sec. XVIII, encontram-se, por vezes, pequenas "pérolas" de poetas (quase) desconhecidos que nos deixaram versos que merecem alguma atenção. Eu tinha lido Valadares Gamboa no princípio dos anos 80, e sempre gostei deste soneto despreocupado mas realista, simples e despretencioso que o poeta,nascido em Lisboa, na freguesia da Madalena, escreveu à beira-rio. Aqui vai ele:
"Os seus nédios rebanhos pastorando
Além andam no campo os pegureiros;
Ali na seca praia estes barqueiros
A rota lancha estão calafetando;
Sobre as tortas fateixas balançando
Vejo dos ovarinos dois saveiros;
Carregado de pobres passageiros,
Um côncavo batel cá vem chegando;
Lá vão barcos à vela de água acima; Aqui passa de gente uma barcada;
Aquele ao duro peito a vara arrima;
Eu sobre esta muralha escalavrada
Isto que vejo vou compondo em rima, Porque não tenho que fazer mais nada."

Favoritos V : Soutine






Parece que tinha mau feitio...


Chaim Soutine nasceu na Lituânia - integrada na Rússia, nessa época - a 13 de Janeiro de 1893 e veio a falecer, em Paris onde se radicou em 1913, no ano de 1943. Foi grande amigo de Modigliani (1884-1920) que o retratou algumas vezes. A pintura expressionista de Soutine, na minha opinião, parece ter como antecedentes Bosch e El Greco, e, como sequente, Francis Bacon. Nunca pintava de memória, mas sempre com o modelo à sua frente.


Maurice Genevoix (1890-1980), esse grande esquecido, retrata-o, assim, no seu texto "O Vairão" do "Tendre Bestiaire": "...O homem, macilento e magro, com um chapéu de feltro cinzento muito enterrado na cabeça, de olhos escuros, ardentes, quase febris, falava alto, era o único a levantar assim a voz dentro do veículo, com uma autoridade talvez demasiado confiante e forçada, onde havia um certo tom de provocação."

sábado, 9 de janeiro de 2010

Bibliofilia 4 : Paul Verlaine



Nos anos oitenta do século passado, comprei, num alfarrabista de Lisboa, um voluminho - em bom estado de conservação - de poesias do poeta simbolista francês Paul Verlaine (1844-1896). A obra foi das últimas publicadas, em vida, do autor. Tratava-se de "Liturgies Intimes", impresso em 1892. Custou-me, na altura, Esc.2.200$00 (cca. Euros 11,00).
O pequeno livro tinha pertencido, inicialmente, a Alberto de Oliveira (1873-1940), poeta e grande amigo, que fora, de António Nobre (1867-1900), e tinha, na capa, marca de posse manuscrita: "Coimbra 1892 / Alberto d'Oliveira". O que quer dizer que os nossos poetas estavam actualizados na leitura dos seus congéneres estrangeiros.
Em Novembro de 2008, esta mesma edição, mas na sua vertente especial (de apenas 375 exemplares), estava à venda, por $654 dólares (cca. Euros 939,00), na "Libraire Laurent Coulet" e uma outra, edição normal, mas 2ª edição (1893), vendia-se por Euros 200,00, na "Libraire La Monne".
P. S.: para MR, que aprecia esta rubrica.

Luísa Todi





Luísa Todi nasceu em Setúbal, em 9 de Janeiro de 1753, tendo falecido a 1 de Outubro de 1833, em Lisboa, cega e desprovida, quase, de meios de subsistência. Foi célebre pela excelência da sua voz: Beethoven chegou a aplaudi-la. Cantou na Rússia, Itália, Alemanha e em Portugal, sempre com grande sucesso.
A tragédia da Ponte das Barcas, no Porto, aquando da fuga da população perante a invasão dos franceses, foi-lhe nefasta: perdeu grande parte dos seus bens. O excerto de "Armida e Rinaldo", de Giuseppe Sarti, fazia parte do seu repertório. É cantado, aqui, por Gloria Banditelli.

Para quem se queixa do frio...





"...Fui ver: a neve caía
do azul cinzento do céu..."
Augusto Gil (1873-1929)
P.S.: as fotografias foram tiradas em Coblença-Alemanha. Numa delas, vê-se o rio Reno .
Foram tiradas por M. J. Gschossmann.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Memória 8 : François Miterrand



Completam-se, hoje, exactamente 14 anos sobre a morte de François Mittérrand (1916-1996). Homem de cultura, político "florentino", resistente e persistente na luta pelo poder, amigo do nosso 25 de Abril, é bom lembrá-lo, neste tempo de políticos menores e videirinhos.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ironias de Quevedo



Na "Origen y difinición de la necedad, con anotaciones a algunas necedades de las que se usan", Quevedo (1580-1645) escreveu:


"Que não se leve dinheiro pelo enterro dos poetas, nem dos músicos, nem dos valentes porque se esforçam mais em morrer do que todos os outros, em enterrá-los."

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dia de Reis



Sendo Dia de Reis (e feriado no tempo da minha juventude) que se celebra, com toda a propriedade, em Espanha e na Bélgica, sendo eu,embora, laico e republicano, porque não? lembrar D. Luis (1838-1889) que até traduziu William Shakespeare, pintava e era um rei liberal, bonacheirão,(embora tivesse uma esposa que se pelava por luvas, como Imelda Marcos por sapatos) e que permitiu a criação de partidos políticos - com ampla e régia magnanimidade.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Adagiário III : Luar de Janeiro



1. Ao luar de Janeiro, se conta dinheiro.


2. Luar de Janeiro, não tem parceiro, mas lá vem o de Agosto que lhe dá no rosto.


3. Não há luar como o de Janeiro, nem amor como o primeiro.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Citações VII : ainda Albert Camus



"A arte tem movimentos de pudor. Não pode dizer as coisas directamente."


"Cahiers", Albert Camus (1913-196o)

De Memória e com Afecto



A literatura infantil (e, de algum modo, a juvenil) quase sempre foi tratada como parente pobre nos estudos literários. Quando de qualidade, as obras para crianças ou adolescentes, são alicerces estruturantes na formação de mentalidades e na criação de princípios éticos, sociais, de justiça, solidariedade e liberdade.


domingo, 3 de janeiro de 2010

Nos 50 anos da morte de Albert Camus






Completam-se, amanhã, exactamente 50 anos sobre a morte de Albert Camus (1913-1960), num brutal acidente de viação. Figura incontornável quer no desespero existencial do seu pensamento, quer na esperança quase juvenil e generosa de pensar o futuro, A.C. foi Prémio Nobel de Literatura, em 1957. Algumas das suas obras, mais importantes, ajudaram a crescer a minha geração. Destaco "O Estrangeiro" e "O Mito de Sísifo" que ele terminava com esta frase lapidar : "É preciso imaginar Sísifo feliz."


Transcrevo um pequeno excerto do discurso que Albert Camus pronunciou, em Estocolmo, quando recebeu o Prémio Nobel. São palavras, ainda hoje, de grande actualidade.


"...Cada geração sente-se, sem dúvida, condenada a reformar o mundo. No entanto sabe que não o reformará. Mas a sua tarefa é talvez ainda maior. Ela consiste em impedir que o mundo se desfaça. Herdeira de uma história corrupta onde se mesclam revoluções decaídas, tecnologias enlouquecidas, deuses mortos e ideologias esgotadas, onde poderes medíocres podem hoje destruir tudo, mas não convencer, onde a inteligência se rebaixou para servir o ódio e a opressão, esta geração tem um débito para com ela mesma e para com as próximas gerações, que é restabelecer, a partir das suas próprias negações, um pouco daquilo que faz a dignidade de viver e de morrer..."