Dizia, em 1959, com a crueza sincera juvenil do espírito - ele que já ia em avançada maturidade corporal - dizia (repito) Vinicius de Moraes (1913-1980), assim, em início de poema:
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental...
Não teria, decerto de todo, o poeta brasileiro, assimilado a lição pessoana, ou talvez dela discordasse, o que veio a contribuir para que ele fosse um grande poeta menor da língua portuguesa. E do amor.
Mas bem o compreendo eu que, sendo adolescente e desprovido de sentido crítico, achava os desempenhos cinematográficos de Virginia Mayo, Doris Day, Mylene Demongeot, uma maravilha...
Em contrapartida, era Simone Signoret que eu achava uma bruxa, em "As Feiticeiras de Salém" (The Crucible, 1957), e mal dava pela grande actriz que já era Katherine Hepburn.
Só com os anos, ou com a chegada da maturidade podemos compreender, inteiramente, que o feio também pode ser belo.
Assim Soutine, assim Bacon, por exemplo, em matéria de pintura.
Para o poeta Vinicius a beleza era fundamental nas mulheres. Mas, para tanta gente, não. Os casamentos - com papel e sem ele - não se dão apenas entre gente bonita e o amor não é um hino à beleza.
ResponderEliminarAcho sempre um bocadinho lamentável reduzirem-nos à aparência. E até uma falta de respeito pelo muito que a pessoa é para além da carcaça - cuja, como se sabe num saber de experiência feito, muito se transforma ao longo da vida.
Há sempre a beleza interior, à falta de melhor. Ou por substituição piedosa.
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