terça-feira, 6 de novembro de 2018

A biblioteca de Raul Brandão


Uma biblioteca define, de algum modo, os gostos e, porventura, a maneira de ser do seu proprietário.
Foi por isso que, com alguma curiosidade, folheei o inventário da biblioteca de Raul Brandão (1867-1930), inserto na Revista de Guimarães (Volume LXXXIX, Jan--Dez. de 1979), biblioteca que, por disposição testamentária do Escritor, teria ficado à guarda da Sociedade Martins Sarmento. Só a partir de 1979,  isso aconteceu, por demora dos herdeiros em cumprirem a sua vontade, atempadamente. Uma vez que a viúva, Maria Angelina Brandão, teria falecido por volta de 1964.
O acervo é de média dimensão e, para lá dos livros portugueses, há bastantes volumes em língua francesa. Mesmo os volumes das obras de William Shakespeare (10), Dickens (8), Stevenson (6) e de Joseph Conrad (4), autores de língua inglesa, são versões em francês. Bem como as obras de Tolstoi (10), e Dostoievsky (7). Dos escritores gauleses representados, o maior número pertence a Balzac, com 25 livros, seguido de Anatole France (11), Michelet, Alexandre Dumas e Moliére, com 9 volumes, cada. Stendhal, com 8 livros e Paul Bourget, com 7.
Mas a minha grande surpresa, deu-se com os escritores portugueses. Do poeta, hoje esquecido, António Correia de Oliveira, havia 17 livros, na biblioteca de Raul Brandão - provavelmente eram amigos. Seguido por 12 livros de João Grave e 7 obras de Camilo. Junqueiro e António Sérgio (5), Pascoaes, Fialho de Almeida e Garrett, representados por 4 livros, cada. Seguia-se Aquilino Ribeiro, com apenas 3 obras. E não faltava, também, o polémico e escandaloso na altura, O Marquez de Bacalhoa, de António de Albuquerque, publicado em 1904.
Em síntese, eram estas  as leituras de Raul Brandão, na sua Casa do Alto, em Nespereira (Guimarães).

8 comentários:

  1. Nunca ouvi falar desse livro de António Albuquerque.
    Se era escandaloso na época, talvez os meus pais me evitassem a leitura...

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    1. O livro ficcionava alguns pecadilhos de alcova de D. Carlos e D. Amélia...
      Falei dele no Arpose, a 19/9/2010.

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  2. Será que os leu todos?
    Quais terá deixado a meio e quais terão sido oferta que guardou mas nunca leu?
    Um catálogo deixa sempre abertas várias possibilidades à imaginação.

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    1. Provavelmente, não.
      Até aos 40, eu li tudo o que comprei, religiosamente, excepto "O Doutor Jivago", de Pasternak e o "Guerra e Paz", de Tolstoi.
      Depois, comecei adescarrilar..:-)

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  3. Creio que poucas pessoas que gostam muito de ler e que têm uma biblioteca com uma dimensão razoável, tenham lido tudo o que compram. Não conheço ninguém que tenha paixão pelos livros, que não compre mais do que lê. Compra-se mais um livro com a esperança que se vai ler. É inevitável!

    (Mas o "Guerra e Paz" já está...)

    (Eu acho que comecei a descarrilar desde que comecei a comprar livros)

    Boa noite:))

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    1. A Isabel resume bem o que se passa, normalmente, com um leitor compulsivo.
      E só um esforço suplementar de persistência me fez ler o "Guerra e Paz", como se lembra e referiu. Ando agora numa tentativa de contenção, que nem sempre resulta..:-)
      Bom dia.

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