Uma biblioteca define, de algum modo, os gostos e, porventura, a maneira de ser do seu proprietário.
Foi por isso que, com alguma curiosidade, folheei o inventário da biblioteca de Raul Brandão (1867-1930), inserto na Revista de Guimarães (Volume LXXXIX, Jan--Dez. de 1979), biblioteca que, por disposição testamentária do Escritor, teria ficado à guarda da Sociedade Martins Sarmento. Só a partir de 1979, isso aconteceu, por demora dos herdeiros em cumprirem a sua vontade, atempadamente. Uma vez que a viúva, Maria Angelina Brandão, teria falecido por volta de 1964.
O acervo é de média dimensão e, para lá dos livros portugueses, há bastantes volumes em língua francesa. Mesmo os volumes das obras de William Shakespeare (10), Dickens (8), Stevenson (6) e de Joseph Conrad (4), autores de língua inglesa, são versões em francês. Bem como as obras de Tolstoi (10), e Dostoievsky (7). Dos escritores gauleses representados, o maior número pertence a Balzac, com 25 livros, seguido de Anatole France (11), Michelet, Alexandre Dumas e Moliére, com 9 volumes, cada. Stendhal, com 8 livros e Paul Bourget, com 7.
Mas a minha grande surpresa, deu-se com os escritores portugueses. Do poeta, hoje esquecido, António Correia de Oliveira, havia 17 livros, na biblioteca de Raul Brandão - provavelmente eram amigos. Seguido por 12 livros de João Grave e 7 obras de Camilo. Junqueiro e António Sérgio (5), Pascoaes, Fialho de Almeida e Garrett, representados por 4 livros, cada. Seguia-se Aquilino Ribeiro, com apenas 3 obras. E não faltava, também, o polémico e escandaloso na altura, O Marquez de Bacalhoa, de António de Albuquerque, publicado em 1904.
Em síntese, eram estas as leituras de Raul Brandão, na sua Casa do Alto, em Nespereira (Guimarães).
Nunca ouvi falar desse livro de António Albuquerque.
ResponderEliminarSe era escandaloso na época, talvez os meus pais me evitassem a leitura...
O livro ficcionava alguns pecadilhos de alcova de D. Carlos e D. Amélia...
EliminarFalei dele no Arpose, a 19/9/2010.
Bem interessante. Bom dia!
ResponderEliminarDeu-me gosto ler o inventário.
EliminarUma boa tarde.
Será que os leu todos?
ResponderEliminarQuais terá deixado a meio e quais terão sido oferta que guardou mas nunca leu?
Um catálogo deixa sempre abertas várias possibilidades à imaginação.
Provavelmente, não.
EliminarAté aos 40, eu li tudo o que comprei, religiosamente, excepto "O Doutor Jivago", de Pasternak e o "Guerra e Paz", de Tolstoi.
Depois, comecei adescarrilar..:-)
Creio que poucas pessoas que gostam muito de ler e que têm uma biblioteca com uma dimensão razoável, tenham lido tudo o que compram. Não conheço ninguém que tenha paixão pelos livros, que não compre mais do que lê. Compra-se mais um livro com a esperança que se vai ler. É inevitável!
ResponderEliminar(Mas o "Guerra e Paz" já está...)
(Eu acho que comecei a descarrilar desde que comecei a comprar livros)
Boa noite:))
A Isabel resume bem o que se passa, normalmente, com um leitor compulsivo.
EliminarE só um esforço suplementar de persistência me fez ler o "Guerra e Paz", como se lembra e referiu. Ando agora numa tentativa de contenção, que nem sempre resulta..:-)
Bom dia.