Dependendo muito dos interesses de cada ser humano, há correntes de afinidade, consideração e até mesmo afecto, que se estabelecem, duradouras e fortes, entre fregueses e fornecedores. Modistas e alfaiates, merceeiros e peixeiras de mercado, simples empregados de quiosques ou de cafés, carteiros e médicos, para citar apenas algumas profissões, podem gozar da estima dos seus clientes e despertar, neles, uma especial simpatia. Creio que a honestidade e a competência no exercício da sua própria actividade são factores imprescindíveis, pelo menos para mim, para que essa relação de cúmplice proximidade se possa vir a estabelecer. Ou a solidão cultural dos espaços que habitam, esses fregueses, a isso obrigue ou justifique...
Ginha, Guedes, Almarjão, Tarcísio, Beckmeier são nomes saudosos, do meu passado, bem como alguns outros apelidos de que nunca soube ou nem sequer decorei o nome. De livreiros e livreiros-alfarrabistas que me trazem saudades. Não sou promíscuo com facilidade, muito menos me exponho, aos primeiros contactos. Conservo, de início, uma prudente distância, porque recuar depois, é sempre mais difícil e, hoje em dia, o profissionalismo é raro, no comércio livreiro. Mas surpreendo-me, muitas vezes, com a proximidade extrovertida e a familiaridade devota e pia, com que alguns fregueses convivem com os seus fornecedores de livros. Falta de prática, conhecimento e experiência, talvez.
Exclusivo demais (quem sabe?, pela bitola actual), no meu universo, destaco apenas dois nomes: Bernardo e Rosa. Que respeito e estimo, como livreiros. O resto, é apenas a vulgaridade do costume, e de negócio...
Exclusivo demais (quem sabe?, pela bitola actual), no meu universo, destaco apenas dois nomes: Bernardo e Rosa. Que respeito e estimo, como livreiros. O resto, é apenas a vulgaridade do costume, e de negócio...
Durante vários anos as minhas compras eram feitas ao fim de semana
ResponderEliminarna Ericeira. Conhecia muito bem os vendedores e tinha confiança na
qualidade do que comprava. As pessoas eram-me muito familiares.
Falando de livros não na questão de os comprar mas como utilizadora
da biblioteca municipal, lia nessa altura muitos, mesmo muitos livros
e a menina que lá estava era uma simpatia, mas já não me lembro do nome
dela. Depois, de um dia para o outro a morte, veio destruir uma vida calma
e o tempo para mim quase parou. Mas não é fácil, e a recordação está sempre
viva e dói.
A malha dos afectos humanos pode ter várias origens, algumas das quais até, muitas vezes, não as chegamos a entende inteiramente - talvez um gesto simpático, uma frase imperceptível, pelo meio de tantas outras, um gosto comum, um sorriso, eu sei lá...
EliminarMas há aceitar o relativo, que é o sal da vida. Como disse um poeta inglês: "a esperança terá de ir para outras coisas."
Nunca estabeleci nenhuma amizade com nenhum livreiro, infelizmente. Boa tarde!
ResponderEliminarEu não diria amizade, mas proximidade, que, mesmo assim, pode ter alguma coisa de afectuoso, às vezes.
EliminarUm bom fim-de-semana.
Li este post quando ele foi publicado e após diversas vicissitudes ocorridas ontem na procura de um livro, verdadeiramente kafkianas, em que senti a falta de um livreiro, voltei a ler este post.
ResponderEliminarConheci dois livreiros: Hipólito Clemtente na Livraria Opinião (anos 70) e o Mário na Assírio E Alvim (loja do Terminal/Rossio, anos 80) e com eles a afectividade literária era feita sem atropelos ou "negociatas". como descobri quando andei a percorrer diversos Alfarrabistas de Lisboa para completar uma antiga colecção de BD.
Nos dias de hoje são poucos os livreiros, mas também os amigos dos livros, porém ainda temos as afinidades entre os blogues.
Bom domingo!
Hoje, mesmo entre livreiros-alfarrabistas, há muita ignorância. Raros são os que conhecem, verdadeiramente, da "poda", ou têm na loja bibliografia que os ajude.
EliminarAprendi muito com velhos "Marretas", nuns leilões, ali pelo Príncipe Real (cujas cadeiras eram bancos corridos, como nas antigas tabernas). Esses autênticos bibliófilos costumavam comentar alguns lotes, enquanto eram licitados, com apartes, pequenas histórias e segredos preciosos, que ia escutando com atenção - bons tempos!
Mas ainda hoje aprendo, com alguns, raros, conhecedores. E, como refere, também por alguns blogues se vai aprendendo...
Um bom Domingo.