É peregrina a ideia, embora possível, que um eleitor, à boca das urnas, possa mudar de intenções e, num golpe de rins manifestamente improvável, possa vir a votar, arrependido, num candidato mais limpo, mais apropriado à sua condição de proletário, mais digno e mais democrata, à partida.
Mas também eu sou dado a utopias, não desdenho o idealismo das convicções, também sonho com um mundo melhor, embora o presente aconselhe o prudente pessimismo, pelo que vai acontecendo neste universo pequenino que é a Terra que habitamos. Se o século XX foi mau, este XXI parece vir a ser ainda pior.
Ingenuamente, afadiguei-me nos últimos dias em postes preventivos, a propósito das próximas eleições brasileiras. Cerca de 15% das visitas ao Arpose, chegam do Brasil. É certo que grande parte delas vêm às imagens (sobretudo, insólitas e extravagantes, ou primárias), procuram coisas infantis, não buscam cultura nem pensamento muito elaborado.
Mas eu tinha grande esperança no poema (quadra) do Pessoa (Álvaro de Campos):
The Times
Sentou-se bêbado à mesa e escreveu um fundo
do Times, claro, inclassificável, lido,
supondo (coitado!) que ia ter influência no mundo...
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Santo Deus!... E talvez a tenha tido!
Decerto, estúpida e inutilmente, o fiz. E perdi o meu tempo, por entre cegos, bárbaros e ignorantes suicidas.
Ainda ontem os meus pensamentos giravam em torno deste tema. Há uma senhora (historiadora) de quem sou amiga no Facebook que, nos últimos dias, ainda em campanha contra o dito candidato brasileiro. E, se por um lado, eu pensei que era totalmente inútil; por outro, pensei que mais vale fazer pouco do que não fazer nada. Por isso louvo o seu trabalho e o dessa historiadora, mesmo que não tenham eco no resultado das eleições. E também penso que aqui, em Portugal, ninguém achava que o Trump ia ganhar e achavam que era uma piada. Quando ele ganhou, ficaram com mais juízo. Pelo menos, agora, já não riem. O medo poderá servir para alguma coisa. Boa tarde! (e desculpe a extensão do desabafo)
ResponderEliminarErrata: "anda" em campanha, não "ainda".
ResponderEliminarNão pretendo ser paternalista, Margarida, nem ensinar caminhos. Mas é evidente que os brasileiros não foram mais felizes com Getúlio Vargas, nem com a ditadura militar que se abateu sobre o Brasil, durante cerca de 20 anos pesados.
ResponderEliminarQue pretendendam, agora, repetir essas experiências, só se pode atribuir a um desconhecimento brutal da História do seu país, a uma enorme incultura e a um cego fanatismo emocional. Só o posso lamentar - são eles que votam, e vão traçar o seu destino futuro.
Votos de uma boa tarde, cordialmente.
Errata:
Eliminarqueria dizer: Que pretendam...
Nada pode ser dado como certo. E na quadra de Pessoa essa dúvida
ResponderEliminarestá implícita. Se fosse possível mudaríamos, neste caso concreto,
o sentido de voto de muitos, como diz ignorantes suicidas.
Há que esperar. Talvez, quem sabe a alguns tivesse chegado a mensagem
nos seus postes preventivos. Mas gostei do que escreveu.
Tenha uma boa noite.
É uma remotíssima esperança, Maria Franco, aquela que ainda tenho.
EliminarMas agradeço, cordialmente, as suas palavras amigas.
E desejo-lhe, também, uma boa noite.
A campanha atingiu um tal grau de fanatismo que parece pouco provável que o Bolsonaro não ganhe. E com igrejas estranhas à mistura...
ResponderEliminarTambém foi o fanatismo que levou à destituição de Dilma Rousseff. Como se vê até hoje, não havia nada contra ela.
E foi o fanatismo que fez com que Haddad continuasse candidato. Ele devia ter saído e apoiado Ciro Gomes que talvez conseguisse ser eleito, era um dos que tinha menos anticorpos.
A próxima semana vai ser terrível no Brasil.
Bom dia!
A pulverização é de norma no Brasil, como uma clubite tão fanática como no futebol. Os menores de 33 anos não têm memória da ditadura militar, e o grande capital ajuda, em nome de uma pretensa segurança, ao voto na direita (extrema). Não há espaço para milagres, quando até a IURD torce pela ignorância...
EliminarBom dia.